Aniquilação é aquele livro de suspense que te deixa intrigado do início ao fim, com uma narrativa leve e simples que vai te envolvendo sem perceber. Quando você notar, essa história estranha já tomou conta.
A obra de Jeff VanderMeer é a estranheza que você precisa ler hoje.
Sinopse de Aniquilação
Autor: Jeff VanderMeer
Título original: Annihilation
Lançamento: 2014
Sinopse: “A Área X está isolada do restante do mundo há décadas, e a natureza tomou para si os últimos vestígios da presença humana. Uma primeira expedição de reconhecimento voltou de lá relatando uma terra intocada, um paraíso edênico; a segunda terminou em suicídio em massa; a terceira, em um tiroteio dentro do próprio grupo. Até que os membros da décima primeira expedição retornaram como meras sombras do que eram antes e, após algumas semanas, morreram de câncer. Em Aniquilação, primeiro volume da trilogia Comando Sul, o leitor se junta à décima segunda expedição.
O novo grupo é formado por quatro mulheres: uma antropóloga, uma topógrafa, uma psicóloga — líder da missão — e uma bióloga, a narradora do livro. Seus objetivos são mapear o terreno, identificar todas as mudanças ambientais, monitorar as relações entre elas próprias e, acima de tudo, não se contaminarem.
As mulheres atravessam a fronteira esperando o inesperado… e é exatamente isso o que encontram. Mas o que de fato vai definir os rumos da expedição não é o que está lá, e sim o que elas trazem consigo desde o outro lado da fronteira e os segredos que guardam umas das outras.”
O autor e a sua estranheza
Jeff VanderMeer é um autor americano, editor e crítico literário. Vencedor de prêmios como Prêmio Nebula de Melhor Romance, Prêmio Shirley Jackson e World Fantasy Award, sendo alguns deles o de Melhor Romance para Aniquilação.
Jeff é casado com a também escritora Ann VanderMeer e juntos são criadores de um novo movimento literário, o New Weird (novo estranho em uma tradução literal). De acordo com eles, o gênero é um tipo de ficção urbana secundária que altera as ideias romantizadas sobre lugares encontrados na fantasia tradicional, em grande parte escolhendo opções realistas e complexas como o ponto de partida para combinar elementos de ficção científica e fantasia.
Resenha do livro Aniquilação
Com essas poucas informações iniciais já podemos saber que a história envolve muito mistério e questões para serem respondidas, não é mesmo? E ainda o livro Aniquilação te entrega quase de tudo.
Quando se trata de mistério, suspense e reconhecimento de um novo lugar, sim, você vai encontrar aqui. Mas quando se trata de respostas, aí vai da interpretação de cada um. Isso mesmo, Aniquilação é um livro em que cada leitor tira suas próprias conclusões e suas próprias explicações.
Há aqueles que não gostam muito disso, então Jeff não é o autor mais recomendado nesse caso. Aniquilação é um livro que não vai agradar quem precisa ter todos os detalhes explicados e ter todas as perguntas respondidas. Mas, se além de encontrar uma história que te envolve, você gosta de ter liberdade para imaginar junto com o escritor do livro, Aniquilação é para você!
Começamos com o fato de que existe um local e um ecossistema que está crescendo e tomará conta do nosso mundo possivelmente em um futuro próximo (ou não, não se sabe). Há grupos de pessoas que são enviados para lá a fim de mapear, mas nenhum, de fato, retorna. E que quem vai pode encontrar seus “fantasmas do passado”. Tudo isso já é um plot pra lá de clichê de filme de terror, né?! Então fica a dúvida, será que leio, será que não leio? Bom, vamos antecipar algumas surpresas.
As expedições
Pessoas que serviam a um propósito não precisam ser nomeadas.
Não há nomes, nem muitas descrições físicas, nem detalhes a mais que os necessários, mas isso não significa que você não vai conhecer os personagens. A profundidade de cada uma das participantes da décima segunda expedição nos é apresentada apenas com as características psicológicas e dos seus comportamentos. O que mais chama a atenção é que todas baseiam suas ações seguindo suas profissões, já que foram orientadas que deveriam “focar na missão e tudo que fosse pessoal deveria ser deixado para trás”.
Aos poucos vamos entendendo o que aconteceu com as onze expedições anteriores e quem são as integrantes dessa nova expedição. Logo no início ficamos sabemos que hipnose e um treinamento prévio foi estabelecido pelo Comando Sul, responsável por enviar essas expedições de análise, isso porque equipamentos tecnológicos aparentemente não funcionam na Área X, o que pode causar medo e insegurança no grupo.
A décima segunda expedição é composta por uma topógrafa, que tem uma personalidade forte e com treinamento militar, uma psicóloga que é a líder da expedição, uma antropóloga que podemos chamar de a mais “medrosa” do grupo e uma bióloga que é mais reclusa. Elas tinham a “missão de retomar as investigações do governo sobre os mistérios da Área X”.
Todas as expedições são orientadas para escrever em diários tudo o que vivenciam dentro da Área X e é com o diário da bióloga que conhecemos essa história.
Os detalhes específicos registrados nos diários podem conter histórias de heroísmo ou covardia.
A bióloga
Ela é uma pessoa pouco sociável, não costuma se relacionar muito bem com as pessoas e, definitivamente, é apaixonada pela profissão – uma workaholic. Ela se relaciona melhor com o ambiente do que com os seres humanos, mas também não se esforça muito – ela gosta de ficar sozinha. Diz-se até que ela é ‘taciturna, pouco sofisticada e estranhamente rude’.
Mais para frente conhecemos a real motivação da bióloga ter se voluntariado para a décima segunda expedição, o seu marido era o médico da expedição anterior e ele foi o único a retornar da Área X. A personalidade dele é oposta a da bióloga, é muito extrovertido e engraçado. Por ter essas diferenças, o relacionamento dos dois acaba sendo um pouco complicado.
Como é o primeiro livro da série algumas apresentações são necessárias, por isso quem nos apresenta para a Área X é a bióloga. Como cada personagem responde de acordo com a profissão, nada melhor do que conhecer todo o novo ecossistema pela perspectiva de uma bióloga. Afinal, estamos conhecendo um habitat diferente do que vivemos, é um local que está crescendo e se desenvolvendo com características diferentes do nosso mundo.
Por todo o ambiente pairava a presença espectral de tanta gente tentando sobreviver. Por que continuavam a nos enviar? Por que continuávamos vindo? Tantas mentiras, tão pouca capacidade de encarar a verdade.
A Área X
A real protagonista da história. A Área X é uma região isolada há décadas e é um local onde houve uma “catástrofe ambiental”, mas esses são apenas alguns boatos evasivos. A Área X é muito mais que isso.
O ar da Área X era muito limpo e fresco, enquanto o mundo do outro lado da fronteira era o que sempre fora nos tempos modernos: sujo, cansado, imperfeito, afundando em guerra contra si mesmo.
A biosfera da Área X é rica, há muitas aves e vegetações diferentes no mesmo ambiente. Você vê pântano, praia, selva em poucas distâncias. Além da vegetação ter tomado conta de antigas construções, como é o caso de um vilarejo e do Farol. Pouco a pouco esse ecossistema vai se expandindo e consumindo nosso mundo, por isso os estudos nessa área foram iniciados.
Tanta riqueza de detalhes que a bióloga nos traz, não tem como não ficar com vontade de conhecer a Área X. Sem falar na curiosidade: o que tem lá? Como surgiu? Qual o propósito? Por que ninguém voltou? É algo extraterrestre? Outra dimensão? Sim. São muitas dúvidas sobre a Área X.
Quando passamos a ver beleza na desolação, algo muda dentro de nós. A desolação tenta nos colonizar
E a moral da história?
Em uma entrevista com Jeff VanderMeer, ele afirma que “a Área X é para nós o que somos para os animais: uma força aparentemente inexplicável, que age contra eles por razões ruins ou desconhecidas”. Sua maior mensagem é transmitir a ideia de “renegociar a distância entre natureza e cultura” pois agora ele acredita que nós, seres humanos, estamos nos comportando de forma insana e somos mais irracionais do que pensamos.
Mas, por outro lado, também podemos encarar a história de Aniquilação como uma lição de moral ou dica de relacionamento. Estranho encontrar isso em um livro de suspense e ficção científica? Calma que eu te explico. No desenrolar do livro podemos ver o quanto o sentimento que a bióloga e o médico têm um pelo outro é grande. Ver que algumas decisões e a falta de diálogo pode afetar ativamente o relacionamento, é algo que chama atenção.
Se transferirmos a significância da mensagem de Jeff para um relacionamento entre pessoas, Aniquilação deixa também uma mensagem de cuidado com a pessoa amada e que, sim, é preciso falar tudo o que se sente. Mesmo que você conheça a pessoa por muito tempo, ela não sabe o que se passa na sua cabeça e não sabe que algumas atitudes podem despertar certos sentimentos em você. É claro que isso serve para todo o tipo de relacionamento, então não deixe que a falta diálogo seja um impeditivo entre você e quem você ama.
Os livros da série Comando Sul
Aniquilação é o primeiro livro da série Comando Sul, depois dele há também Autoridade e Aceitação. A série conta a história em diversas perspectivas, no início vemos a visão da bióloga em Aniquilação, no segundo conhecemos o Comando Sul (responsável pelas investigações na Área X) e no terceiro recebemos algumas respostas sobre o que, de fato, aconteceu.
Além de entender melhor sobre os personagens do primeiro livro e compreender a decisão que os levou a participarem da expedição, também somos apresentados a novos personagens e novos mistérios. O que será que o Comando Sul realmente sabe, heim? Mas esse é um assunto para um novo post.
Onde comprar
Se você curte essas histórias abertas e quer conhecer o estilo New Weird com o seu criador, aposte em Aniquilação. Vale a pena a experiência e é um bom livro para sair da rotina literária.
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O filme Aniquilação
Antes de assistir ao filme eu já tinha lido a respeito dele e já sabia que uma certa ‘liberdade poética’ entrou em cena, se é que podemos chamar assim. HAHAH Então fui assistir já com esse mindset. Sempre vem à tona aquele argumento de que o livro é melhor que o filme e tudo mais e para algumas pessoas isso pode vir a calhar quando falamos de Aniquilação. Mas se você é do tipo que prefere algumas explicações sobre a história, então assistir ao filme é a melhor opção.
Como ainda não li todos os livros da série Comando Sul, não sei se o filme é um conjunto de tudo, então vamos falar apenas de Aniquilação livro e filme. Fora todos os desvios da história, fora todas as adaptações de personagens, todas as mudanças nos fatos e desenrolar da história, a adaptação foi ótima quando se trata da Área X. Realmente foi além do imaginado e transmitiu muito mais do sentimento e do vislumbre daquele local.
Recomendo que o filme Aniquilação seja admirado como uma obra a parte. Não como uma continuação, não como uma explicação, nem como uma adaptação cinematográfica. O filme pode ser visto sem ler o livro, e vice-versa. E se você quiser encontrar mais respostas de um com o outro, pode até confundir. Foi preciso assistir duas vezes ao filme e ter controle sobre as lembranças do livro para realmente apreciar o filme.
No final das contas, gosto de como tudo se desenrolou no final. Além, é claro, da trilha sonora maravilhosa e da fotografia impecável. Mas fico triste com algumas mudanças desnecessárias, mas como não ficar né? Até mesmo Jeff VanderMeer ficou, como afirma em uma entrevista que “lamenta a perda de algumas coisas. É, até certo ponto, difícil, como criador de algo muito pessoal, não ter controle sobre uma representação visual de sua história”.
Quando estamos tão próximos do centro de um mistério, não há como dar alguns passos para trás e vê-lo por inteiro.
E você, o que acha de livro com finais abertos? Já leu Aniquilação, o que você achou? Conte nos comentários sua experiência 🙂