A canção de Aquiles é uma releitura da Ilíada, um poema épico sobre a guerra de Tróia. Escrito por Madeline Miller, no livro os eventos são narrados pelos olhos do príncipe Pátroclo, melhor amigo e amante do maior herói da Grécia – Aquiles.
“Se forem a Tróia, sua fama será tão grande que um homem entrará na lenda para sempre apenas por ter-lhes passado um copo”
Uma nova representação do conto grego
Antes de tudo, você não precisa conhecer a história ou ter lido a Ilíada para gostar de A canção de Aquiles.
E além disso, mesmo quem já conhece a história do começo ao fim, vai se surpreender. Nesse livro a autora narra eventos que não são explorados na Ilíada ou outros contos de onde derivam as histórias da guerra de Tróia e a vida de Aquiles.
Acompanhamos a história através do príncipe Pátroclo. Após alguns eventos, e por ser considerado fraco e covarde, é exilado pelo próprio pai para o Reino de Fítia, onde cresce ao lado do príncipe Aquiles, filho do rei Peleu.
Apesar das inúmeras diferenças entre si, se tornam melhores amigos. Nasce e se desenvolve uma linda amizade, que acaba evoluindo para um romance.
—Cite um herói que tenha sido feliz.
A Canção de Aquiles
— Não conseguiria
— Eu serei o primeiro. — Segurou minha mão e pousou-a na sua. — Jure.
— Por que eu devo jurar?
— Porque você é a razão. Jure.
Aquiles não é apenas um príncipe, mas também é um semideus — sua mãe, Tétis, é uma ninfa do mar. Aquiles nasceu envolto de profecias e promessas, e se tornaria o maior guerreiro de sua geração e de todas até aquele momento.
O ponto central do livro é o amor que um sente pelo outro, desde a juventude nos momentos de paz, na iminente provação de Aquiles e até o maior conflito que a Grécia já vira.
“Sou Aquiles, filho de Peleu, de estirpe divina, o melhor dos gregos. Vim para lhe assegurar a vitória.”
Fanfic de Homero?
Madeline Miller levou 10 anos para escrever o livro, pois queria ter certeza que tudo estava correto, nos mínimos detalhes. O livro é muito respeitoso com as obras originais e explora muito bem pontos onde existiam lacunas.
Eu tenho receio com algumas obras onde tentam suavizar a mitologia, tornando tudo humano e menos fantástico. Não é o caso de A canção de Aquiles, onde os deuses e criaturas mitológicas estão todas presentes, como deveria ser.
Fãs da mitologia grega irão adorar essa história. As aparições de divindades são boas e na medida certa. Em particular, a presença da mãe de Aquiles em alguns trechos é bem impactante, você percebe o poder que a presença da deusa possui aos olhos humanos.
“Ela deu um passo à frente, e a relva parecia murchar sob seus pés. Era uma ninfa marinha, por isso as coisas da terra não a amavam. — Você foi avisado — prosseguiu ela. O negro de seus olhos parecia me penetrar, bloqueando minha garganta. Não conseguiria gritar nem se quisesse”
Ocorreu um evento no livro que foi diferente do que eu e a maioria conhecemos (não citarei qual, para não estragar a surpresa), e confesso que fiquei bem decepcionado. Mas ao final do livro, nas notas, a autora explica sobre essa “mudança”.
Na verdade, o acontecimento em questão tem uma versão mais popular, mas escrita muito posteriormente a Ilíada ou Odisseia e por isso a autora preferiu seguir o caminho original e não o mais famoso. Adorei ter lido essa nota ao fim do livro, foi uma surpresa muito boa e uma informação que eu desconhecia.
O Romance
Esse é um ponto onde existem algumas interpretações sobre os dois protagonistas. Em algumas adaptações, Pátroclo e Aquiles são apenas bons amigos, mas há quem considere os dois personagens como um casal.
Para a autora e estudiosos da Ilíada, não há grandes evidências de que os dois eram um casal, pois para os gregos isso era tão natural que não precisava ser explícito. E, com o tempo, isso foi sendo apagado por homofobia.
Madeline criou sua visão definitiva: são um casal e ponto final.
Considerações finais
A escrita do livro é muito poética e acaba combinando com o contexto de divindades e heróis. A leitura fluiu muito bem, apesar de algumas partes a narração ser tão alegórica que eu perdi uns segundos tentando entender o significado.
É necessário ter em mente também que A Canção de Aquiles não é a história da guerra de Tróia. Claro que ainda é o contexto do livro e o que move os personagens, mas em certos momentos alguns acontecimentos da guerra são jogados bem rapidamente. Isso não me desagradou, já que é totalmente coerente com o arco narrativo.
O livro é a história de Pátroclo, um príncipe exilado, renegado pelo pai, e de Aquiles, o maior herói que o mundo conheceu. Dois amantes que apesar de seus diferentes destinos, desejam ficar juntos. O desfecho é muito bonito, encerrando a história muito bem e dificilmente não emocionará você.
“Aquiles é metade de minha alma, como dizem os poetas.”
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐
É bem escrito mas é uma fanfic total, “Homero” nunca falou nada de explicito ou que deu a entender que houvesse um romance entre eles, pela vida social grega, eles provavelmente tinham uma amizade colorida mas nada realmente digno de um amor absurdo ou totalmente romântico, até porque a homossexualidade na Grécia antiga era aceita apenas em casos específicos, principalmente relacionado a idade e status, esse livro é um prato cheio para quem olha relacionamentos homo afetivos entre homens como fetiche (principalmente por mulheres hétero).
inda não li o livro mas nunca pensei neles como um casal, fiquei ainda mais curiosa para ler. É muito triste pensar que perdemos tantos fatos culturais pelo preconceito da época né? (que no caso ainda temos até hoje)
É realmente muito bem escrito, poético nos mínimos detalhes e emocionalmente intenso. O que eu chorei no final desse livro não ta no papel.