Eu não sabia que o filme Bambi era baseado em um conto.
Sei que é um filme bem antigo – foi uma das grandes animações da época junto com O Rei Leão e 101 Dálmatas – mas só conheci a obra original por causa dos projetos da editora Wish.
A editora faz edições muito lindas em projetos colaborativos no Catarse, e foi em um desses que eles traduziram a história de Bambi e Pocahontas (que também vou ler em algum momento!).
Foi por causa dessa capa que, movida pela curiosidade, resolvi dar uma chance para essa história. No fim, foi uma boa surpresa, já que de forma geral o livro Bambi é uma boa leitura.
Mas, um pouco mais direto que o filme, Bambi tem uma lição de moral. Respeito aos animais, e claro, um pouco de religião.
A história original de Bambi
Bambi é um cervo recém nascido. Na floresta, ele conhece os outros animais e aprende sobre a borboleta que parece uma flor que voa, a horrível trovoada, as diferentes estações e como sobreviver a cada uma delas. Tudo isso junto à sua mãe e seus amigos.
A mãe, sempre muito cautelosa, ensina tudo que pode para que ele não passe por nenhum perigo desnecessário. Ela ensina, por exemplo, que Bambi não pode aproveitar o sol como gosta tanto, pois sua espécie precisa sempre se esconder.
Sim, a vida era dura e cheia de perigos. Ela podia trazer o que quisesse, ele aprenderia a suportar tudo.
Bambi
E assim vamos acompanhando o crescimento do pequeno cervo.
Até que um dia “Ele” chega na floresta, de repente e sem ser convidado, com seus terríveis cães. Com sua terceira mão, Ele cria trovoadas e machuca os outros animais, e Bambi precisará aprender a como sobreviver a esse novo inimigo.
O que achei da leitura do livro original
Da mesma forma que Caninos Brancos, Bambi traz uma visão mais focada no animal para sua história. Não sei quão real é o retrato, mas é possível aprender um pouco sobre como é o ciclo da vida dos cervos, sua relação com pai, mãe e a rotina deles (caminhar pela floresta, encontrar abrigo, etc).
Dentro dessa narrativa, o escritor Felix Salten soube não humanizar demais os personagens ao ponto de perder a perspectiva deles durante a leitura, mas o fez de forma suficiente para gerar empatia por eles.
O conto em si é bem simples e a leitura é fluída, apesar de algumas cenas serem um pouco tristes. Assim como no filme, realmente a mamãe cerva morre de um tiro, só que aqui acontece uma forma muito mais descritiva.
E dá para entender porque esses acontecimentos são narrados de forma tão mais objetiva e clara na versão original da história. Bambi tem uma mensagem bem específica sobre os animais não existirem apenas para o nosso proveito. E que os humanos causam muita dor à natureza.
Acredito que hoje em dia esse livro não seria recomendado para crianças. Os animais morrem, às vezes de forma mais visual do que outras, seja por um tiro ou por um cachorro.
Mas gostei de ter lido o livro. É o mesmo gostinho de ler e conhecer um conto de fadas. Não é uma super leitura, mas matou minha curiosidade.
Para mim foi nota 3 de 5 ⭐⭐⭐.
Edições do livro
Se você também adora conhecer um conto original, tem umas edições muito lindas disponíveis para compra. Uma delas é da Editora Wish, que traduziu o conto original.
Outra edição muito linda é essa cartonada, em espanhol:
Link da Amazon para você babar um pouquinho. O livro está em torno de 200 reais.
Tem também outras edições muito lindas de Bambi, mas todas estrangeiras.
Diferença do livro e do filme Disney (mas com spoilers!)
Agora a pergunta que todo mundo se faz: o livro e o filme de Bambi são parecidos?
Bom, revi o filme e posso dizer que as histórias tem algumas diferenças mais fundamentais relacionadas a lição de moral do conto.
“Se não souber dizer uma coisa agradável, então não diga nada.”
Filme Bambi, da Disney
O filme, por ser uma animação infantil, não podia ser tão direto sobre a crítica aos humanos, então até alguns personagens foram retirados.
Como, por exemplo, o Gobo. Ele era irmão de Feline e não aparece no filme, apesar de ser parte importante na história.
Gobo era um amigo cervo de Bambi muito fraquinho e debilitado. Quando uma grande caçada do homem chega a floresta, ele não consegue fugir e se deita no chão. Todo mundo acha que ele morreu, mas um tempo depois ele reaparece dizendo que o homem é bom, que o salvou e que não há motivos para ter medo dele.
“Gobo era mesmo um tanto fracote, mas Bambi o amava, pois ele era tão bondoso e tão disposto e sempre um pouco triste sem deixar que se percebesse.”
Bambi, a história de uma vida na floresta
Mas quando o homem volta à floresta, Gobo tenta se aproximar deles para mostrar quão bonzinho “Ele” pode ser. O cervo acaba… enfim, morrendo por um tiro.
Quanto mais o filme avança, mais detalhes diferentes do conto são adicionados. Não tem nenhum incêndio quando a grande caçada chega, e quem ajuda Bambi a se salvar na floresta é o velho príncipe (um grande e velho cervo). Inclusive, o filme fala pouco da relação e sabedoria do mais velho. E isso muda drasticamente o final entre as histórias.
Bambi cresce na presença do seu pai, aprendendo a fugir e a se esconder com ele – pois ele já viveu muitos e muitos anos. Mas o pai acaba morrendo de velhice e o ciclo da vida faz o seu ciclo, com o nascimento dos filhos de Bambi.
“Ele não está acima de nós! Ele está ao nosso lado, é igual a nós e, como nós, conhece o medo, a penúria e o sofrimento.”
O velho, em bambi
De qualquer forma, assim como a adaptação da história original de A Bela e a Fera que já falamos aqui, é normal que a adaptação seja bem diferente do livro. Surpreendentemente nesse caso, em geral, Bambi até que é bem similar.
Curiosidades sobre o autor Felix Salten
Felix Salten era um escritor judeu que nasceu em 1867, na Hungria. Seu livro mais famoso foi Bambi, lançado em 1923. A história nasceu de suas horas e mais horas, de acordo com o Metropole, na floresta, caçando.
Apesar da popularidade do livro, 10 anos depois ele vendeu os direitos para o filme por apenas $1000 dólares, direitos que foram vendidos para a Disney posteriormente.
Em plena 2ª guerra, não era muito seguro ser um judeu famoso. Inclusive, seus livros (Bambi incluso) foram proibidos na Alemanha Nazista em 1936. O que fez o autor mudar e se estabelecer na Suíça até a sua morte, em 1945, com 76 anos.