O Monstrologista é um livro do gênero Horror Gótico, com um quê fortemente lovecraftiano, de Rick Yancey, autor mais conhecido pela trilogia de ficção-científica A Quinta Onda.
Na adolescência, eu li A Quinta Onda e suas sequências. Eram leituras fáceis e proporcionavam entretenimento rápido, ainda que nem os personagens nem o mundo (ou o final da trilogia) fossem muito cativantes.
O Monstrologista é muito, mas muito melhor.
“Estes são os segredos que guardei. A confiança que nunca traí. Porém, agora ele está morto, e já se passaram mais de quarenta anos, aquele que confiou em mim, aquele por quem guardei estes segredos…
Aquele que me salvou… e me amaldiçoou.”
Sobre O Monstrologista
Composto por quatro livros, O Monstrologista (lançado pela primeira vez em 2009) começa nos introduzindo ao próprio autor, Yancey, encontrando uma série de diários de um homem sem identidade que faleceu afirmando ter cerca de 133 anos e nascido em 1876.
Isso deixa o autor curioso e o leva a ler seus diários.
O primeiro diário (livro) nos introduz a Will Henry, um menino de doze anos recentemente tornado órfão por circunstâncias extremamente infelizes. Na mesma noite da morte de seus pais, ele foi adotado pelo excêntrico e distante Dr. Pellinore Warthrop, antigo patrão de seu pai e renomado monstrologista.
A adoção de Warthrop, porém, não é de um homem adotando um filho, mas sim de um cientista arranjando um assistente novinho em folha. A partir daí, uma relação não-ortodoxa—e extremamente deturpada—de parceria começa.
“Sim, meu filho querido, monstros existem. Por acaso há um pendurado no meu porão.”
Porém, em uma noite fatídica, um coveiro aparece à porta do Dr. Warthrop com o cadáver de uma jovem em um saco—e dentro dela um monstro se alimentando de seus restos.
O monstro é um filhote de antropophagus (numa tradução bem literal do latim, “que se alimenta de homens”), uma criatura asquerosa e carnívora, que está a oceanos de distância de seu habitat natural, e não veio sozinha.
Cabe a Warthrop e Will Henry descobrir como as criaturas chegaram aqui e como impedi-las de causar uma chacina inimaginável.
Antes de qualquer coisa, é importante alertar aos leitores: O Monstrologista não é uma leitura para os fracos de estômago. É um dos livros mais explícitos e nojentos que já li (e falo isso como um altíssimo elogio), com descrições extremamente detalhadas de mortes sangrentas, assassinatos brutais e autópsias técnicas.
A narrativa do livro apresenta um contraste fascinante entre uma prosa floreada e bela (embora em alguns poucos momentos também ela chegue a ser cansativa de tão verborrágica) e o cenário gótico, perturbador e obscuro.
A atmosfera é opressivamente sombria e é constantemente fomentada pela promessa de violência canibal por parte dos monstros e pela dinâmica codependente e moralmente ambígua entre o frio e narcisista Warthrop e o solitário e carente Will Henry.
Os personagens
A relação entre Will Henry e Warthrop é, inclusive, uma das minhas partes favoritas de toda a série. Não há margem para debate de que a dinâmica entre os dois personagens é tóxica.
Warthrop é egoísta, obcecado pelo seu trabalho e não possui qualquer tato para lidar com uma criança. Will é um menino cuja inocência da infância desaparece cada dia mais e que tenta desesperadamente impressionar o doutor, a última pessoa que ele tem no mundo.
Não importa quão perturbado, rude e desinteressado Warthrop seja—ele é tudo que Will Henry tem, e, na verdade, Warthrop se vê na mesma situação em relação ao menino.
O livro conta também com personagens secundários variados e interessantes. Desde cidadãos comuns inconscientemente pisando no universo da monstrologia até homens tão sinistros e monstruosos—se não mais—quanto as criaturas que Will e Warthrop estão tentando derrotar.
Uma das mensagens focais do livro aborda exatamente essa questão: seriam os monstros que habitam o armário, a parte de baixo da cama, as sombras, os únicos monstros que existem? Não seria o próprio homem um tipo de monstro também?
“Esse caçador de monstros… ele é aquilo que caça.”
Rick Yancey providencia respostas e perspectivas muito pontuais e interessantes para esses questionamentos, criando uma ampla margem para reflexão.
O mundo da monstrologia
Pouco se sabe da Monstrologia a princípio:
- Ela é um ramo da ciência que, obviamente, estuda monstros; e
- ela é restrita a um grupo muito seleto da sociedade e completamente secreta ao restante. O mundo não sabe que monstros de verdade existem.
No primeiro livro, Yancey não aprofunda a monstrologia além dos próprios estudos de Warthrop acerca dos antropophagi. Há breves menções de um instituto de renome global sobre a ciência, e falam-se da existência de outros estudiosos, mas não vai além disso. O universo que Rick Yancey criou para sua macabra área científica só ganha mais nuance e camadas a partir do segundo livro.
Cada livro da saga explora um monstro diferente. De certa forma, as histórias lembram casos de Sherlock Holmes, visto que a obra é narrada por Will Henry, que observa, se encanta e amedronta – como Watson faz com Holmes – pelos feitos e pelas descobertas do Dr. Warthrop, que é tanto protagonista da obra quanto Will.
Os monstros apresentados nas demais obras também são criaturas fascinantes, famintas e destrutivas. Descobri-los junto dos protagonistas é uma jornada amedrontadora e de dar calafrios.
Embora seja uma saga desconhecida aqui no Brasil, O Monstrologista e suas sequências são uma leitura extremamente prazerosa e única, perfeita para fãs de HP Lovecraft e de livros de horror no geral.
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Sinopse de O Monstrologista
Título: O Monstrologista
Série: O Monstrologista #1
Autor: Rick Yancey
Editora: Farol Literário
Lançamento original: 2009 (2011 no Brasil)
Sinopse: Will Henry é assistente de um médico com uma especialidade incomum: a monstrologia, isto é, o estudo dos monstros. Ao receber em casa o cadáver de uma menina atrelado a um desses seres que se acreditava extinto, Will e o médico sairão à caça de outros antropófagos antes que seja tarde demais.
Os livros O Monstrologista são uma obra prima! Daria um filme maravilhoso,com Johnny Depp como o doutor. Acredito que seria seu melhor trabalho .
Oi Samara!
São realmente livros mágicos, alguns dos meus favoritos. Adoro a ideia do Johnnt Depp como Dr. Warthrop! Tim Burton certamente conseguiria fazer um filme com uma atmosfera bem característica também.
Muito boa a resenha, fiquei com vontade de ler até chegar na parte do “É um dos livros mais explícitos e nojentos que já li” kkk não sou fã do gênero e sei que não tenho estomago para esse livro mas foi bom conhecer um pouco mais sobre ele!!
Oi Bruna!
Hahaha, infelizmente tem que ter estômago forte mesmo pra ler, não é uma leitura nada leve. Mas que bom que gostou!