Foram 13 longos anos aguardando a continuação do Ciclo da Herança. Mas cá estamos hoje com uma resenha do livro Murtagh!
Por muito tempo, pensei que não veria mais nenhum livro da série. Minha esperança com Alagäesia retornou uns 2 anos atrás, quando fui surpreendida com o volume de contos O Garfo, a Bruxa e o Dragão.
Um dos contos – no caso O Garfo – dava margem para uma história que precisava ser contada nesse universo. Tanto que falei aqui no blog que acreditava que logo mais veríamos a continuação daquela história.
Então, em 2023, para a minha – não tão – surpresa, o autor Christopher Paolini divulgou que publicaria o livro Murtagh, justamente a continuação do conto que mencionei. O livro saiu em dezembro e no mesmo mês eu já peguei ele nas minhas mãos!
Thorn e Murtagh, um cavaleiro e um dragão sem vínculos e sem reis
Introduções feitas, vou começar a falar sobre esse livro começando por seus protagonistas: Thorn e Murtagh.
Eles são exilados. Odiados por todos.
“Não há porto seguro para nós.”
Murtagh
Mas temem que Alagaësia ainda esteja em perigo, e viajam por aí atrás de respostas para alguns mistérios. Algumas delas, infelizmente, estão dentro das grandes cidades.
Por não serem bem-vindos, em geral Murtagh precisa agir sozinho nos centros urbanos, oculto e fazendo ao máximo para não ser identificado – apesar de no fim ele sempre se meter em encrenca.
Já Thorn precisa ficar escondido, sem muito contato com seu cavaleiro e sem poder fazer muito além de esperar.
Para quem leu o conto O Garfo, ele é mais ou menos o começo da história. Só que, ao invés de ser contado pelo lado da menininha que está em apuros com seus amigos, a história é contada pelo próprio cavaleiro (o que eu achei bem interessante).
Para quem não leu, Murtagh precisa se encontrar com um mercador, com notícias ou descobertas de coisas incomuns. Lá, a filha do taverneiro, que tem seus próprios problemas pessoais para resolver, começa a bater um papo com ele, e eles trocam algumas experiências. Mas a menina acaba sendo feita de refém pelo mercador, que quer mais dinheiro do cavaleiro.
Nada de ruim acontece a ela, mas no fim a menina acaba ganhando um… super garfo.
Durante essas aventuras, Murtagh encontra cada vez mais pessoas carregando um símbolo estranho, que anula a sua magia. Um símbolo de corvo, feito por uma bruxa, chamada Bachel. E ele sabe que precisa investigar essa pessoa capaz de usar magia sem usar a língua antiga.
Depois de algumas provações, ele consegue a informação do paradeiro dela, é aí que sua aventura realmente começa.
Ele encontra a bruxa, mas seria ela boa ou má? Ela fala a verdade ou é apenas uma fanática? O que fazem aquele povo, e desde quando vivem ali?
Murtagh e Thorn vão precisar desvendar esses mistérios sozinhos.
“Em suas perambulações, evitem os túmulos de Anghelm, onde jaz em câmara ardente o único rei Urgal, Kulkarvek. evitem as ruínas de Vroengard e de El-harím. Cuidado com as profundezas, não pisem onde o solo se torna negro e seco e o ar cheira a enxofre, pois é onde se esconde o mal.”
Umaroth para Murtagh e Thorn, em Herança.
Um retorno a Alagaësia
Para quem é fã de Eragon, é impossível não se sentir um pouco nostálgico.
Quando penso no Ciclo da Herança, a primeira lembrança que me vem à cabeça é a insistência em convencer meu pai a comprar o primeiro livro da série – só porque a capa tinha um enorme dragão azul.
O que não era (e ainda não é…) comum.
Graças a política da minha família de que “livros são sempre bons”, passei dias e dias das minhas férias de verão lendo. Devorei cada capítulo, acompanhando Eragon e Saphira em suas viagens e fugas.
E agora, com “Murtagh”, sinto uma espécie de volta às raízes. É como reencontrar um velho amigo.
Ler sobre a magia, o reino de Nasuada, as Montanhas Beor, a floresta dos elfos… tudo isso traz lembranças de quando eu li a série pela primeira vez e simplesmente adorei esse universo.
Até o barquinho que Eragon e Arya fizeram, eu acho que no livro Brisingr, tem uma participação mínima nessa história.
É… É bom estar de volta.
O que achei da leitura (sem spoilers)
Sobre os personagens
Nos primeiros capítulos, Paolini nos apresenta melhor esses dois personagens mal interpretados por todos, nos fazendo criar certa empatia pelos dois.
Murtagh traiu Eragon e o movimento dos Varden, e por isso era só considerado como um antagonista. Mas o que ele passou na mão de Galbatorix?
Mesmo sabendo que ele foi obrigado a colaborar com o rei, por causa do juramento na língua antiga que foi obrigado a fazer, que marcas essa servidão forçada deixou nos dois?
“Porque uma cicatriz significa que você sobreviveu, significa que você é durona e difícil de matar. Significa que você viveu. Uma cicatriz é algo para se admirar.”
Murtagh
Com todas essas questões para resolver, Murtagh acaba sendo um personagem interessante. Ele não é um garoto que está formando sua moralidade, como Eragon. É um homem atormentado.
(Ah, ele nutre um certo rancor por seu meio-irmão. Então não espere que ele faça qualquer movimento para antecipar esse reencontro.)
Já Thorn, um grandioso dragão vermelho, finalmente tem seu passado revelado em detalhe. Foram muitas provações para o pobre filhote, e muitas vezes fiquei de coração partido ao ler os tormentos que ele passou nas mãos de Galbatorix.
Acho que ninguém pensou como foi crescer com o antigo rei, já que apenas as torturas que Murtagh sofreu foram mencionadas em mais detalhes.
Ele e Murtagh, a princípio, não eram para se dar tão bem quanto Eragon e Saphira, mas sinto que o dragão mal pode participar da história para esse ponto se tornar verdadeiro. Ele não é muito orgulhoso e aceita tudo que o cavaleiro sugere.
Acredito que Thorn é assim por causa dos maus-tratos que recebeu. Seu orgulho foi, de fato, despedaçado. Ele agora sofre de amarras psicológicas que o impedem de ser um dragão respeitável. Mas gostaria de poder ter visto mais sobre ele. Talvez no próximo (sim, acho que vai ter um próximo – alerta para final semi-aberto).
“Ninguém é perfeito. Ninguém passa pela vida ileso. Portanto, não se culpe pelo que está fora do seu controle. Estamos aqui e temos um ao outro. Isso é o que importa.”
Murtagh
Sobre a história
Eu gostei bastante do ritmo de Murtagh.
O começo é bem lento (como é de se imaginar), nos apresentando o dia a dia dos dois sem muitos altos e baixos. Depois de mais ou menos 300 páginas (o livro tem 700 e tantas), o ritmo fica mais intenso e esperamos por respostas.
Sobre a lentidão inicial, eu gosto de acompanhar o dia a dia dos personagens, entender como sobrevivem. Paolini sempre fez isso e, apesar de muitos não gostarem, eu sempre curti.
O final, como sempre, tem uma luta grande. E uma grande abertura para uma continuação. Então eu acredito que o Ciclo da Herança ainda vai receber pelo menos mais 3 livros (conto mais abaixo).
Mas essa batalha em especial não me convenceu muito. Achei que ficaram algumas pontas soltas – comento no final na resenha com spoileres. Então por isso eu não dei 5 estrelas para o livro.
Obs.: tem um ponto que me incomodou no texto. Utilizaram o termo “animal” como sinônimo para Thorn. Ele não é um animal qualquer, é um grandioso dragão! Não sei se isso foi da tradução aqui para o português ou se no original também é usado. Mas achei muito estranho.
Opinião final
De qualquer forma, eu devorei o livro em bem menos tempo do que esperava. Foi maravilhoso voltar para esse universo e reparar, também, nos pequenos easter eggs.
Mesmo com as pontas soltas que mencionei, digo que é uma leitura muito bem-vinda para quem gosta desse universo criado por Paolini.
Ah, antes que eu me esqueça: eu recomendo que você leia o volume de contos O Garfo, a Bruxa e o Dragão antes deste livro. Ele tem alguns poucos momentos com Eragon e Saphira e se passa durante os eventos de Murtagh.
Mais livros na Alagaësia
Outro ponto que eu gostaria de falar é que essa não era a história original que o autor havia pensado para ser o livro 5.
O livro ainda não seria sobre Eragon (os tempos dele já foram), mas teoricamente se passaria alguns anos no futuro.
Acredito que o livro ainda será escrito. Continuarei acompanhando e atualizando o nosso conteúdo sobre o guia do Ciclo da Herança. Então não deixa de se inscrever na nossa Newsletter para não perder nenhuma novidade.
Comentários para quem leu (com spoilers)
Ok, agora eu vou falar alguns pontos que eu gostaria de comentar que são spoilers! Por favor, não leia se não quer saber da história e do final do livro.
Uma das pontos soltas que mencionei que me incomodou foi o uso de magia por Murtagh. Sinto que ele deveria ter morrido várias vezes, se tivesse que seguir as regras que Eragon seguia.
O cavaleiro muitas vezes usa só palavras soltas da língua antiga, isso quando usa qualquer palavra. Ele também usa levianamente o Nome dos Nomes, tornando qualquer coisa possível. Acredito que é por isso que ele precisava ter uma antagonista capaz de usar magia sem palavras, porque seria o único tipo inimigo capaz de pará-lo.
A magia levou um tom tão leviano na mão de Murtagh que perdeu bastante sentido para mim. E também achei um pouco forçado ele ter ganho a luta com a bruxa. Ela teoricamente teria muito, mas muito mais energia que ele (pois consome algo além do entendimento dele). Mas ele no fim consegue derrotá-la e ainda soltar mais algumas magias de cura.
Falando sobre o final, até gostei daquele reencontro. Achei fofinho. Um tanto inesperado, mas fofinho.
Só não esperava que o livro terminasse sem um desfecho de verdade, deixando um grande gap para um próximo livro.
E você, o que achou do livro Murtagh? Você achou que a representação de Murtagh e o uso da magia no livro foram fiéis ao espírito original da série?
Não deixe também de conhecer todos os livros de Christopher Paolini aqui.
Avaliação de Murtagh
O livro traz uma nova visão do universo, agora contada através de Murtagh e Thorn, personagens que não tinham sido muito explorados até então. Atormentados, eles foram injustiçados várias vezes, e o escritor conseguiu que finalmente a gente sentisse uma conexão com eles.
Porém, achei que o plot teve alguns furos e não gostei tanto do caminho que a história seguiu.
Ainda assim recomendo o livro para qualquer fã de Eragon. Vale a pena continuar a série.
Lados positivos
- Personagens interessantes e mais profundos
- Um ótimo retorno ao mundo de Alagaësia
Lados negativos
- Não achei o desfecho convincente
Olha, o que tu falou sobre a magia realmente me “desanimou”, poxa, a magia era algo absurdamente perigoso e potencialmente autodestrutivo e saber que ele a usa assim… #chateado
Sobre retornar ao universo de Eragon, quando vi o mapa da Alagaësia comecei a encontrar os nomes conhecidos e a lembrar das aventuras e das jornadas, e neste momento compreendi que Eragon é um livro que fala MUITO sobre como devemos apreciar a jornada e não ansiar pelo destino final.
Vou ler este livro, quando eu não sei, mas vou, e quando o fizer eu volto.
Obrigado!!!
É, acho que isso poderia ter sido melhor desenvolvido. Mas vamos ver como vai ser o próximo livro da Paolini.
Mas você deve ler, sim, independente disso!
Eu comentei no instagram essa semana que estava ansiosa por sua resenha, e aqui estou eu, hahahaha. Eu amo o Murtagh desde o primeiro livro. Não sei se é meu fraco pelos rejeitados, mas eu sempre entendi ele muito bem, sempre busquei ver pela visão dele. E me doeu demais quando ele foi embora e vi que nunca leria a visão dele do final de tudo. Saber que esse livro existe, agora, acalenta meu coração. Estarei lendo assim que possível, hahahaha. Murtagh, eu escolhi te amar!
Aaah então acho que você vai gostar muito do livro! Eu nunca fui muito fã do Murtagh, então de repente por isso não consegui me conectar tanto com o livro. Depois me conta o que achou, tenho poucas pessoas para falar sobre o ciclo 💙