O Caminho dos Reis é o primeiro livro de Os Relatos da Guerra das Tempestades, prometido como uma saga de 10 livros principais e outros 9 ou 10 contos complementares. É considerado por muitos a obra prima de Brandon Sanderson.
Brandon Sanderson: uma máquina de escrever
Brandon Sanderson é um escritor norte-americano de fantasia e ficção científica. Além de Os relatos da guerra das tempestades (The Stormlight Archive), também é autor da série Mistborn, Elantris, Skyward, Executores e vários outros.
Também foi o responsável por terminar a saga A roda do tempo de Robert Jordan. Em 2007, com a morte de seu autor, a saga foi finalizada graças a Sanderson e às anotações deixadas por Jordan.
Sanderson se tornou um fenômeno nos últimos anos, agradando tanto o público quanto a crítica. Em 2022, esperando arrecadar 1 milhão de dólares para a publicação de seu novo projeto, bateu recorde de arrecadação no Kickstarter, totalizando 41,7 milhões de dólares.
Ele também é conhecido por sua velocidade na entrega de suas obras, trabalhando em inúmeros projetos ao mesmo tempo. É, portanto, comparado frequentemente com outros autores de fantasia cuja demora para lançar novos livros é decepcionante, como o caso de George R.R. Martin e Patrick Rothfuss com o livro 3 de A Crônica do Matador do Rei.
Também vale mencionar a “Cosmere”, o universo compartilhado onde se passam alguns livros do autor, como Mistborn, Elantris e o próprio O Caminho Dos Reis. Para conhecer mais sobre como essas histórias se ligam, acesse nosso artigo sobre todos os livros de Brandon Sanderson.
Jornada antes do destino
Eu sei que se você chegou até aqui sem ter lido O Caminho dos Reis, sem nunca ter lido nada do autor, deve estar pensando:
Será que realmente vale a pena ler esse calhamaço de 1240 páginas?
A resposta curta e direta: SIM.
Quando nos deparamos com um livro imenso, temos um grande receio de iniciarmos a leitura, principalmente quando o livro não tem dezenas de indicações. Será um grande tempo investido, e algumas pessoas possuem dificuldades em abandonar um livro, não importando o quão maçante ele seja.
Por já ter lido outros livros do autor, minha expectativa para O Caminho dos Reis era altíssima. Mas, felizmente, ela foi atendida à altura.
O Mundo de O Caminho dos Reis
O livro se passa em um planeta chamado Roshar. Lá, a principal característica é as gigantescas tempestades, chamadas de grantormentas, que acontecem com frequência.
Estas grantormentas são fundamentais para a história, pois é a partir delas que tudo foi moldado. A flora e fauna evoluíram para sobreviver a violência da natureza e, por isso, o mundo é populado por plantas que se recolhem, árvores rígidas e muitos animais que usam conchas, se assemelhando aos crustáceos do nosso mundo.
Os seres humanos também precisaram se adaptar e criaram cidades e vilas em lugares que naturalmente concedessem uma proteção para as grantormentas, como grandes paredões em superfícies rochosas. Estar longe de um abrigo durante esse evento significa morte.
Em Roshar, pedras preciosas são usadas como moedas – mas não qualquer pedra. São pedras que, quando expostas a grantormentas, são energizadas com a chamada Luz das tempestades.
Além de ditar a organização monetária, as pedras também são usadas como fontes de iluminação – então é frequente as descrições de palácios com inúmeras gemas coloridas iluminando o espaço. Pequenas moradas também usam esse artifício, mudando a quantidade e valor das pedras.
As pedras também são fontes de magia para alguns poucos usuários. Eles conseguem retirar a luz das tempestades das pedras e usar para diversos fins, como força, cura e velocidade.
A história do livro
Séculos se passaram depois da queda dos Cavaleiros Radiantes, mas suas Espadas Fractais e armaduras permaneceram. São extremamente cobiçadas por tornarem seus usuários em grandes guerreiros quase invencíveis. Guerras ocorrem por causa destes objetos, e grandes tesouros, como reinos, são oferecidos em troca.
Ter um guerreiro com uma espada ou armadura fractal é sinônimo de vitória. Por isso, cabe a cada reino conseguir ter em posse alguma destas armas para equilibrar o poder militar.
A história segue pelo ponto de vista de alguns personagens, mas com destaque para três principais, Kaladin, Dalinar e Shallan.
Kaladin é o foco do livro, um jovem que estudava medicina e entra no exército para proteger seu irmão mais novo. Lá ele se destaca como um grande soldado e líder, porém acaba se tornando um escravo. A razão dele se tornar um escravo é um dos mistérios do livro.
“Vá ser o que você é. O que fazia um homem quando não sabia o que era nem o que queria ser?”
Dalinar é um comandante de um dos exércitos, irmão do rei assassinado. É afetado pelas grantormentas, tendo visões dos antigos Cavaleiros Radiantes.
“Às vezes a recompensa não vale os custos. Os meios para se obter uma vitória são tão importantes quanto a vitória em si.”
Shallan é uma jovem que tenta convencer Jasnah, sobrinha de Dalinar, a aceitar ser sua mentora. Shallan aprecia o conhecimento e ama o estudo, mas com o tempo descobrimos que seu propósito com Jasnah é outro.
“Se não fazemos nada com o conhecimento que adquirimos, então desperdiçamos nosso estudo. Livros podem armazenar informações melhor do que nós… o que os livros não podem fazer é interpretar. Então, se não for para tirar conclusões, podemos deixar todas as informações nos textos.”
Os três personagens são muito diferentes entre si, cada um em uma condição social diferente. Então por esse aspecto conseguimos ver o mundo e a sociedade por diferentes olhos.
Um mundo bem construído
O Caminho dos Reis possui muitas características que uma obra de fantasia precisa ter para me convencer que aquilo foi realmente pensado como um mundo diferente. Já citei a ecologia, que é um desses pontos fortes.
Termos e adjetivos aqui fazem alusão ao principal evento do mundo: as grantormentas.
“Luminobre”, “luminosa” e “tormentoso” como títulos e adjetivos, “Pai das tempestades” e “Tempestade Eterna” usados para fins religiosos, fora as expressões como “raios o partam” que em Roshar ganha um peso maior.
A sociedade também possui divisões por uma característica física: os olhos claros, mais uma vez remetendo à luz das tempestades.
Considerações finais de O Caminho dos Reis
O começo do livro parecia que ia ditar o tom da história, com o uso frenético de magia o tempo todo, como em Mistborn. Mas o que Sanderson faz é nos dar um gostinho do que ainda estar por vir.
Tudo vai aos pouquinhos sendo contado, e os personagens vão sendo construídos de uma maneira muito instigante. O livro é gigante, mas nunca tedioso.
Muitas informações são lançadas ao longo das 1240 páginas. À medida que avançamos na leitura, vamos conseguindo associar vários pontos que a princípio pareciam não ter ligação.
“Você precisa confiar em mim porque demora um pouco para as coisas começarem a acontecer. Você precisa conquistar grandes finais, eu acho, através de fazer muita construção no início.”
Brandon Sanderson
Sanderson é um mestre em colocar informações em algum lugar, parecendo algo muito trivial, que depois acabam se revelando essenciais. Nada que o autor coloca é inútil, tudo enriquece a história de alguma maneira.
Os interlúdios entre os capítulos e as ilustrações (que merecem um elogio a parte) comprovam isso. Você conhece mais daquele mundo pelo relato de outros personagens fora daquele eixo central ou através de um desenho de alguém daquele mundo.
Também quero deixar aqui um elogio à Editora Trama por sua incrível tradução e adaptação. Comparei os termos originais em inglês com o português e adorei. No Brasil, essa saga está em ótimas mãos.
Tudo que relatei aqui foi uma tentativa de mostrar quão épico O Caminho dos Reis é. Deixei muita coisa de fora que acredito ser muito legal descobrir durante a leitura.
Lá fora já foram lançados mais dois livros, Rhythm of War e Wind and Truth, fora outros 2 complementares, Edgedancer e Dawnshard. O livro 4 de Stormlight Archive deve ser lançado no Brasil no final de 2025.
Acabei o livro querendo já ler o segundo. Brandon Sanderson é definitivamente um dos meus autores favoritos.
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Definitivamente esse livro vai entrar na minha lista de 2023!
Nossa, ficou muito bom a resenha sobre o livro e o universo. Definitivamente eu fiquei com vontade de ler e conhecer mais sobre as obras do autor. As ilustrações pra mim são uma atração a parte, adoro quando o livro vem com elas, e amo que elas sejam tipo rascunhos e não uma imagem colorida pronta. Parabéns Jael, ficou incrivel!!