O ceifador é o primeiro livro de uma série criada por Neal Shusterman. Neste mundo ambientado no futuro, a humanidade venceu a fome, doenças e até mesmo a morte.
Com a superpopulação entrando em cena, os ceifadores são os únicos que podem tirar uma vida e controlar o limite de pessoas na terra.
“É difícil para a maioria de nós imaginar um mundo tão inseguro, com perigos invisíveis e inesperados à espreita em todos os lugares. Agora que tudo isso ficou para trás, só nos resta um dado simples: as pessoas precisam morrer.”
A trama se desenrola através de dois protagonistas que se tornam aprendizes do ceifador Faraday. Citra e Rowan são adolescentes que não querem desempenhar esse papel, mas acabam criando uma rivalidade entre si, já que apenas um será recrutado.
Mundo Utópico
O termo utopia se caracteriza como uma civilização ideal, mas também algo imaginário, impossível de ser alcançado. Muitas vezes a expressão é usada para algo ilusório ou fantasioso.
Utopia é, portanto, o contrário da distopia, um sistema onde existe opressão, corrupção, totalitarismo e infelicidade da população. Exemplos deste tipo de obras são: Jogos vorazes, O Conto da Aia, O Homem do Castelo Alto e 1984.
O mundo criado em O Ceifador é o melhor possível, um futuro utópico onde a humanidade conseguiu alcançar a prosperidade e acabar com as guerras, fome e doenças.
É interessante dizer que muitos citam esse livro como distópico, mas segundo o próprio autor, o mundo é perfeito nas nossas concepções de perfeição.
O futuro bom
Toda essa prosperidade foi capaz graças a Cumulus-Nimbus, uma inteligência artificial que possui todo o conhecimento humano. Ela é capaz de administrar e cuidar da raça humana, resolvendo qualquer problema que exista. Diferente dos humanos, ela não é passível de corrupção, ódio ou parcialidade.
Perceba que aquele clichê de máquina/robô/inteligência artificial malvada não é usado aqui. A Cumulos-Nimbus não tomou o poder ou destruiu os humanos, pelo contrário, ela se mostrou competente e muito melhor que os políticos para gerenciar tudo.
Com o avanço significativo da ciência, as doenças pararam de acometer os humanos, e é legal perceber que essa é uma palavra que muitos desconhecem. Acidentes também não são problemas, já que se você “morre”, seu corpo é levado para um lugar para passar por um processo de ressuscitação.
Até mesmo as práticas de rejuvenescimento são usadas, fazendo com que as pessoas de 300 anos tenham a aparência de 20.
Os ceifadores
Neste mundo, os ceifadores são uma organização que possuem como função tirar a vida em definitivo de outras pessoas (o termo para isso é coleta). Sua autoridade é inquestionável e ninguém deve resistir à decisão de um ceifador. Quem resiste a uma coleta estende punições aos seus próprios familiares.
Os ceifadores também podem oferecer imunidade, e, em um período de 12 meses, nenhum ceifador pode tirar sua vida. Muitas pessoas buscam agradar aos ceifadores em troca dessa imunidade, dando jantares, presentes e qualquer outra coisa que acham que pode comprar a gratidão de um membro da ceifa.
Também existe uma cota de vidas para serem coletadas. E existem regras referentes a etnias ou alguma cultura – um ceifador que restringe suas mortes a um grupo específico será advertido.
É nesse tema em específico que faz a utopia do livro gerar dúvidas. Entre vários motivos, os ceifadores recrutados precisam ter algo em comum: Não gostar de matar. Mas é claro que entre milhares de ceifadores teriam aqueles que se consideram acima de todos e gostam daquilo que fazem.
Alguns ceifadores vivem humildemente, já outros gostam de ser celebridades. Alguns preferem uma morte rápida e violenta aos olhos do público, outros algo mais empático e com compaixão. Essa distinção entre os ceifadores é um ponto fortíssimo no livro.
Cada capítulo começa com um trecho do diário de um dos ceifadores. Essa parte nos permite entender melhor os seus pensamentos ou, pelo menos, o que eles gostariam que alguém lesse.
“O que mais desejo para a humanidade não é a paz, o consolo ou a alegria. É que ainda morramos um pouco por dentro toda vez que testemunhemos a morte de outra pessoa. Pois só a dor da empatia nos manterá humanos. Nenhum Deus vai poder nos ajudar se algum dia perdermos isso.”
Este elemento é particularmente algo que eu gosto muito, artifício que Brandon Sanderson faz muito bem na série Mistborn, mas também visto em clássicos como Duna.
Outra característica que gostei muito foi os nomes que os ceifadores escolhem quando iniciam sua carreira. São nomes de pessoas de nossa história que de alguma forma contribuíram para a humanidade.
É interessante notar o nome e as ações dos personagens. Por exemplo, o antagonista ceifador Goddard, que faz suas coletas em massa, escolheu esse nome devido ao cientista cujas invenções vão dar origem às temíveis bombas V-2 usadas pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
“Penso sobre religião e que, depois que nos tornamos nossos próprios salvadores, nossos próprios deuses, a maioria das crenças… tudo passou a ser irrelevante. Como seria acreditar em algo maior que nós mesmos? Aceitar a imperfeição e erguer os olhos para contemplar tudo o que nunca poderíamos ser. Devia ser reconfortante. Devia ser assustador. Devia afastar as pessoas das coisas mundanas, mas também justificar todo tipo de crueldade.”
Conclusão da resenha
Se algo poderia ser melhor na minha opinião é a questão de detalhes presentes nas literaturas de hard sci-fi como Devoradores de estrelas. Apesar do propósito do livro não ser esse, gostaria de saber mais como a ciência que torna os humanos imortais funciona, por exemplo.
O que pode ser um pequeno defeito pra mim, com certeza é um ponto fortíssimo para outros leitores. O livro é ágil e não perde muito tempo em detalhes técnicos.
O foco é a história e seus personagens que vivem nessa realidade. O mundo funciona assim e ponto final.
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐
A série Scythe
Pensada inicialmente como uma trilogia, a série Scythe tem 4 livros e mais uma prequel prevista. Fiz um guia sobre a série de O Ceifador, suas novidades e as notícias sobre a adaptação.