A história de “A Pequena Sereia” do filme da Disney todo mundo já conhece: Ariel, uma jovem sereia, se apaixona por um príncipe humano e, com o sacrifício de sua voz, torna-se humana para que ele também se apaixone por ela.
Mas será que você conhece a verdadeira história de A Pequena Sereia?
Na versão original escrita por Andersen, o conto pode ser mais trágico do que você imagina. A pequena sereia não fica com o príncipe, e o preço para ela se tornar humana é mais do que apenas a voz.
Vem ver as principais diferenças entre o filme e o livro de A Pequena Sereia:
A Pequena Sereia não é ruiva
A primeira diferença entre o conto original e o filme é a aparência física da pequena sereia. A sereia, que também não tem nome no conto original (muito menos suas irmãs, o nome Ariel é invenção da Disney), possui pele clara, olhos azuis e um longo cabelo prateado.
Ela não é proibida de subir à superfície
A pequena sereia não é proibida de subir à superfície, e suas motivações para ir até lá também são um pouco diferentes. No conto de fadas, as sereias podem subir à superfície após completarem 15 anos. Todas suas irmãs mais velhas vão e voltam contando as maravilhas e curiosidades do reino terrestre.
Apesar de ser muito curiosa, na verdadeira história, a pequena sereia espera até seus 15 anos para conhecer esse outro mundo, e é exatamente no seu aniversário que ela encontra o navio do príncipe.
Uma curiosidade: não era a pequena sereia que guardava itens de naufrágios, mas sim suas irmãs mais velhas. A mais nova gostava de flores e possuía uma estátua de um rapaz.
Apesar de salvar o príncipe, quem ele encontra ao acordar é outra mulher
Assim como no filme, a sereia salva a vida do príncipe quando seu barco encontra uma grande tempestade (só que o príncipe não tem nenhuma cena de heroísmo desnecessária, salvando o cachorro das chamas como no filme rs).
Porém, ao deixá-lo na praia, a sereiazinha espera escondida na espuma do mar até que alguém o encontre e o salve. É neste momento que outra mulher o encontra, e o príncipe se apaixona por essa salvadora.
Ah, o pai da pequena sereia não fica zangado por ela ter salvo o homem.
Aliás, o contato com seres humanos nem é proibido.
Após salvar o príncipe, a sereia se pergunta sobre a possibilidade de ter uma alma
Anos depois que ela salvou o rapaz, a sereia continua observando o castelo do príncipe à distância.
Com o tempo, ela acaba se afeiçoando aos humanos e deseja passar mais tempo com eles. Também por ser muito curiosa, ela pergunta a sua avó sobre o que acontece quando os humanos morrem.
Ao saber que eles vivem menos, mas que possuem almas imortais, a sereia descobre que poderia também ter uma alma imortal se um ser humano a amasse e se casasse com ela.
“Eu daria de boa vontade todos os trezentos anos que tenho para viver se pudesse me tornar uma humana por apenas um dia e participar do mundo celestial.”
a pequena sereia no conto original
Após um baile, onde a sereia cantou belamente (bingo aqui com o canto no filme), a sereia ainda continuava triste com sua situação atual e sua vida no palácio.
Então ela decide visitar a feiticeira do mar para saber se há algo que ela poderia fazer para ter uma alma imortal… e talvez ficar com seu príncipe.
O preço para virar humana é mais do que apenas a voz
Eis o preço para a pequena sereia virar humana: uma dor insuportável toda vez que caminhar, a impossibilidade de voltar a ser sereia e… a língua cortada!
Que cantar que nada, a língua é que é a parte do ingrediente da poção da feiticeira.
O tempo para conquistar a alma imortal? Aqui é um pouco diferente… Se ela não conquistar o coração do príncipe, ao amanhecer seu coração se despedaçará e ela virará espuma do mar (ou seja, o que toda sereia vira quando morre).
“A vida é cheia de escolhas difíceis, não é?”
Úrsula no filme
Por fim, a pequena sereia não fica com o príncipe
Após chegar na areia com suas duas pernas, o príncipe a encontra e a leva para o castelo. Durante seu tempo lá, fica claro que, para ele, a sereia era apenas como uma irmã mais nova.
O rapaz só tinha olhos para a linda moça que o salvou na areia naquele dia do naufrágio.
Diferente do filme, sua família, irmãs, pai e avó até iam visitá-la. Como ela sentia muitas dores nas pernas e precisava relaxar, no mar era o único momento em que ela podia se dar o luxo de demonstrar dor.
Enquanto isso, o tal príncipe estava predestinado a se casar com a princesa de um reino próximo, mas ele não sabia quem era a tal moça. Ao enfim encontrá-la, ele descobre que ela era a mesma mulher que o salvou naquele dia na praia.
Feliz, ele logo se casa com a princesa, e a ex-sereia até leva a noiva até o altar para se casar com seu príncipe.
(Não, esta tal princesa não era nenhuma feiticeira que havia enfeitiçado o príncipe. Era apenas uma moça que faria o príncipe feliz.)
Sabendo do casamento, as irmãs da sereia (tão meigas!) entregam seus próprios cabelos para a feiticeira do mar para que a caçula tenha outra chance de viver.
Era só ela usar um punhal no príncipe antes do amanhecer e ela poderia voltar para o mar.
A sereia se aproxima do leito de núpcias, mas não consegue matar o príncipe. Ela joga a adaga no mar, se jogando também em seguida, e vira espuma, pois seu coração foi, por fim, despedaçado.
Porém, sua decisão e sua bondade a fazem virar filha do ar.
Como filha do ar, com 300 anos de boas ações, a pequena sereia também poderia ter sua alma imortal.
E assim termina sua história: a pequena sereia fica feliz pelo seu príncipe e sua noiva e ainda tem uma chance de ser imortal, independente do amor de um ser que vive fora do seu mundo.
E a pobre da feiticeira do mar não era maldosa como no filme, ela apenas tinha um preço por seus caprichos e nada mais.
Se você ficou triste com a história, você pode ajudar a pequena sereia sendo uma boa criança
No final do conto original, é explicado que a pequena sereia pode alcançar o reino celestial mais cedo.
Quando ela encontra uma boa criança, “que faz merecer o amor dos pais”, um ano é reduzido do seu sofrimento. Porém, quando encontram uma criança má, isso acrescenta mais um dia no seu tempo de provação.
Então essas são as lições de moral do conto de fada: faça o bem, que serás recompensado. Seja uma boa criança, que ajudarás as filhas do ar a entrarem no reino dos céus. E nem todo o amor será correspondido.
Gostou da verdadeira história de A pequena sereia?
Como uma leitora ávida de conto de fadas, a versão original nunca foi uma verdadeira surpresa para mim. Já li diversas versões, mesmo quando era criança, e nunca foi um choque.
Mas acredito que esse conto ganhou maior destaque porque a história original de A Pequena Sereia é mais do que uma simples história de amor, é uma história sobre sacrifício.
Se você é fã da história, vale a pena ler o verdadeiro conto por trás da adaptação da Disney. A história original é uma obra clássica da literatura infantil e tem lições importantes sobre a natureza humana e as consequências de nossas escolhas.
Se você gostou dessa comparação, outro conto que foi adaptado pela Disney e que já falamos por aqui é a história original de A Bela e a Fera.
Onde ler o conto original de A pequena sereia
O conto de fadas de A Pequena Sereia foi escrito por Hans Christian Andersen, publicado originalmente em 1837 em uma coleção de contos para crianças. Outros contos do autor são O patinho feio, A roupa nova do imperador e O soldadinho de chumbo (que também tem um fim trágico hehehe).
A editora Wish, que tem lançado belíssimas edições dos contos originais, disponibilizou o conto traduzido gratuitamente em seu site.
Porém, você também encontra o conto em obras completas do autor, como na edição para colecionador Hans Christian Andersen: Os 77 Melhores Contos (link da Amazon).
A minha edição em português é uma versão mais simples, com diagramação para crianças. Porém também conta com algumas ilustrações de época. É a edição da Companhia das Letras, com o título Histórias maravilhosas de Andersen.