O livro O pequeno caderno das coisas não ditas, de Clare Pooley, foi uma grata e linda surpresa de 2022. Eu o encontrei por acaso na livraria e sua capa fofa imediatamente chamou minha atenção.
Não sou de ler sinopses (errado, eu sei), mas quando li a dele não tinha como voltar atrás – eu precisava ler O pequeno caderno das coisas não ditas.
De início, o livro sutilmente me deu alguns “tapas na cara”. Durante a leitura, me trouxe muitas reflexões. E no final, me fez confirmar que não sou apenas eu que tenho essa sensação de que não somos verdadeiros uns com os outros.
Mas o foco do livro não é exatamente esse. Ele é sobre amizade, amor, sobre o dia a dia de uma vida corrida e a busca pela vida perfeita. As reflexões foram um plus em tudo isso, algumas vezes muito claras, mas em outras discretamente incluídas ao longo da jornada dos personagens.
O pequeno caderno das coisas não ditas
O livro inicia com Mônica encontrando um pequeno caderno verde em sua cafeteria com o escrito “Projeto Autenticidade” na capa. Pensando em procurar um nome e endereço, ela acaba folheando e descobrindo que o caderno é muito mais do que parece.
Não haviam muitas coisas escritas nele, mas na primeira folha havia a seguinte mensagem:
“Quanto você realmente conhece as pessoas que moram perto da sua casa? Quanto elas realmente conhecem você? Por acaso você sabe o nome dos seus vizinhos? Saberia se eles estivessem com problemas, ou se passassem dias sem sair de casa?
Todo mundo mente sobre a própria vida. O que aconteceria se, em vez disso, você compartilhasse a verdade? Aquela única coisa que define você, que faz todo o resto a seu respeito se encaixar? Não na internet, mas com pessoas reais ao seu redor?
Talvez nada. Ou talvez contar essa história acabasse mudando a sua vida, ou a vida de alguém que você nem conhece.
Isso é o que eu quero descobrir.”
Com esse tapa na cara, ela decide guardar o caderno para ler o restante depois do trabalho, com calma e vinho.
Quando isso acontece, ela se depara com a história de Julian Jessop, um idoso que escreve sobre seu verdadeiro sentimento sem medo de julgamento: ele se sente sozinho.
Após viver uma vida excêntrica de artista, hoje ele se sente invisível pelo envelhecimento e se encontra com problemas para aceitar a solidão após a morte de sua amada Mary.
Mônica se solidariza com a situação dele, mas sente que Julian não é o tipo de pessoa que gosta de receber pena dos outros.
Então, após pesquisar sobre Julian, visitar os lugares onde ele comentou que mora e vai visitar (um cemitério), Mônica decide fazer um anúncio em busca de um professor de artes para dar aulas à noite na cafeteria, e coloca o cartaz na janela do café para que ele veja e se candidate.
Além disso, ela resolve ser totalmente sincera e escrever sua história no caderno. A mais pura verdade sobre ela, algo que nem ela mesma consegue admitir muito. E depois deixa o caderno no bar que tem no outro lado da rua.
E assim começa o caderno a percorrer por vários lugares e pessoas.
Aos poucos as pessoas vão se reunindo na cafeteira para as aulas de artes, com muita diversão, conversas e boa comida.
Não irei dar muitos detalhes sobre a ordem que as coisas acontecem, mas posso te contar que o livro ainda conta histórias bem interessantes. Entre elas, a de Hazard, um viciado que quer ficar sóbrio, e a de Alice, uma influencer que é mãe e leva a vida perfeita nas redes sociais.
Tem personagens secundários muito queridos, mesmo sendo uma história despretensiosa, tem reflexões profundas e um fator inesperado que nos pega de surpresa quase no final do livro.
O que eu achei sobre o livro
Eu gostei muito da escrita da autora, principalmente porque cada capítulo é curto e é contado da perspectiva de um personagem diferente. Apesar da variedade, não chegam a ser muitos a ponto de você se perder.
É uma leitura fácil e gostosa, daquelas que te aquece o coração. Você torce para que as pessoas sejam felizes, fica leve junto com elas por admitirem que tem coisas que elas não mostram para as outras pessoas. É como se depois de escrever no caderno elas pudessem enfim ser elas mesmas.
Os protagonistas são pessoas como qualquer outra pessoa, com seus defeitos e virtudes, seus erros e acertos. Gostei do fato de alguns terem mais camadas e aprofundarem um pouco mais sobre suas histórias e, ao mesmo tempo, não existir essa necessidade de saber mais sobre os outros protagonistas.
Os personagens secundários são muito bem escritos, contribuem para a história, fazem com que você queira saber mais sobre a vida deles, se pergunta qual seria a verdade sobre cada um e o que eles escreveriam no Projeto Autenticidade.
Ver a amizade entre os personagens surgindo foi muito divertido e eu gostaria muito de fazer uma aula de artes com o Julian e toda a turma.
As reflexões ao longo de O pequeno caderno das coisas não ditas são interessantes e entendo que cada leitor terá uma experiência diferente, mas a minha foi bastante focada sobre o quanto mostro como realmente sou e o quanto conheço as pessoas ao meu redor, até mesmo amigos e familiares. As conexões sempre foram importantes para mim e por isso o livro me fez refletir sobre esses pontos.
Gosto muito do livro nos encorajar a sair da frente das telas e viver a vida de verdade, fora das redes sociais, de nos conectarmos com as pessoas, vivermos as experiências, em “sermos” mais do que “parecermos”.
Já falei no início que me surpreendi com O pequeno caderno das coisas não ditas. Ele definitivamente se tornou um dos meus livros favoritos! Minha avaliação dele é 4 estrelas, mas só não dou 5 por dois pontos que não me agradaram muito e que vou falar a seguir.
Alerta de spoiler grave: caso não queria saber o final, pule para o próximo título
Sabe quando um livro é perfeito para você e, conforme vai chegando no final, você vai se emocionando, remexendo na poltrona de empolgação, mas aí vem aquelas últimas 3 páginas que você se pega pensando: “Pra que isso!? Não precisava!”
Sobre o romance, eu gostei do casal ter ficado junto no final, mas achei muito acelerado eles ficarem juntos. Achei que foi um pouco enrolado o romance durante o livro e de repente surgiu uma urgência em ficarem juntos. Poderia ser melhor trabalhado na minha opinião, mas eu adorei eles se tornarem um casal. 💙
E na última página, eu me vi pulando do sofá e falando que não era possível acontecer uma morte naquela altura do livro, onde todos deveriam ser felizes. Super entendo a autora ter matado o personagem, mas queria que ele tivesse vivido um pouco a mais, ter dado mais aulas excêntricas e visto mais do romance da Mônica. Achei uma pena ele morrer naquele momento.
Sobre a autora Clare Pooley
Clare Pooley é uma publicitária que largou a carreira para ser mãe em tempo integral. Atualmente ela mora em Londres com o marido e seus três filhos.
É conhecida por seu blog Mummy Was a Secret Drinker, onde compartilha assuntos relacionados à maternidade e alcoolismo. Inclusive, ela conta nos agradecimentos que a personagem Alice de O pequeno caderno das coisas não ditas é baseada nela mesma.
Desse blog surgiu seu primeiro livro The Sober Diaries, um livro super elogiado que ajudou muitas pessoas a pararem de beber.
Sinopse de O pequeno caderno das coisas não ditas
Autora: Clare Pooley
Editora: Verus Editora
Lançamento: 2022
Páginas: 364
O pequeno caderno das coisas não ditas é um bálsamo para os tempos atuais, que os leitores vão levar no coração e ler com verdadeiro prazer.
Um caderninho verde, seis estranhos e uma amizade inesperada ― quem sabe até amor…Julian Jessop, um artista excêntrico e solitário, acredita que as pessoas não são realmente honestas umas com as outras. Mas e se fossem? Então ele escreve a verdade sobre a própria vida em um caderno verde e o deixa no café do bairro.
O local é administrado pela organizada e eficiente Monica, que furtivamente adiciona sua história e deixa o caderno no bar de vinhos do outro lado da rua. Em pouco tempo, as outras pessoas que se deparam com o caderno acrescentam suas verdades mais íntimas ― e acabam se encontrando pessoalmente no café da Mônica.
Os personagens de O pequeno caderno das coisas não ditas ― incluindo Hazard, o viciado charmoso que faz a promessa de ficar sóbrio; Alice, a fabulosa mãe influenciadora cuja vida real é muito menos perfeita do que parece online; entre outros ― são peculiares e engraçados, devastadoramente tristes e dolorosamente reais. Esta é uma história sobre ser corajoso e mostrar seu verdadeiro eu ― e descobrir que isso não é tão assustador quanto aparenta. Na verdade, se parece muito com felicidade.
Que resenha bem escrita! Esse livro foi um mix de tapas na cara e abraços que consolam, me senti tão conectada a história e aos personagens, havia sempre alguma fala, pensamento ou ação que te faziam se sentir parte da trama. Esse livro foi uma grata surpresa que peguei a amostra despretensiosamente no Kindle e assim que terminei soube que precisava dar continuidade na versão física para preencher com o máximo de post its, expor na prateleira e reler no futuro.
Super concordo com o ponto sobre a relação da Mônica e Hazard, um amor tão bonito poderia ter sido descrito com mais detalhes e calma para apreciar, mas mesmo assim adorei o romance deles. Pra mim, o ponto que realmente mudaria a história de 5 para 4 estrelas e meia, seria a história do Riley, a todo o tempo o personagem batia na tecla de não querer ser resumido a um menino feliz e sinto que no final ele foi resumido a isso, houve um momento em que ele mostrou não ser apenas isso e ter ficado triste e zangado sobre o romance da Mônica, mas foi pouco explorado, quase esquecido, esse é meu único porém para essa história ótima.