“Um dragão sem seu cavaleiro é uma tragédia. Um cavaleiro sem seu dragão é um homem morto.”
Sabe quando todo mundo está falando muito bem de um livro, ele está no auge da “hype”, e dá até medo de pegar para ler só para se decepcionar por um estardalhaço desmedido? Esse era o meu pensamento com Quarta Asa.
Mas calma que encontrei o primeiro título da minha lista de favoritos do ano.
Indicado para fãs de fantasia, dragões e romances “enemies to lovers”.
OBS: Contém cenas hot +18.
Do que se trata Quarta Asa?
A versão resumida de Quarta Asa é: uma jovem em apuros com uma inteligência subestimada, um moreno perigoso com um passado mal resolvido, e um plano em andamento muito maior do que eles.
Já na versão não tão resumida, aqui seguimos o desenrolar da história de Violet, uma jovem que estudou a vida toda para ser Escriba, alguém responsável por guardar os maiores segredos do reino e dar continuidade ao conhecimento das gerações passadas.
Depois de crescer entre livros, memorizar rituais, mapas e fatos históricos, qual a sua surpresa quando a mãe — a general comandante de Navarre — a obriga a entrar na Divisão dos Cavaleiros.
E não é um “a minha mãe mandou eu fazer tal curso”. É mais uma questão de “os soldados dela me arrastarão até o portão correto e me jogarão do parapeito se eu não usar minhas próprias pernas”.
Quer dizer, uma dinâmica bem saudável.
O Instituto Militar de Basgiath funciona com base em quatro Divisões: a Hospitalar, a dos Escribas, a da Infantaria e a dos Cavaleiros. A última sendo a de maior prestígio e menor expectativa de vida.
No caso da divisão dos Cavaleiros, naturalmente eles passam por todo tipo de teste físico, além de aprenderem manobras de combate corpo a corpo e serem instigados ao conflito.
Contudo, além de Violet ser menor que todos os outros cadetes e ter anos de desvantagem no preparo, a nossa mocinha também sofre de uma doença que enfraquece seus ossos e que será sua ruína se descobrirem.
É assim que ela começa a utilizar seus conhecimentos com venenos e mais alguns truques para permanecer viva dia após dia.
O que não é uma tarefa tão fácil com a quantidade de pessoas que querem a sua cabeça.
Com menos dragões dispostos a se unir do que cavaleiros entrando na Divisão, os alunos se vêem como inimigos, e o físico da protagonista a coloca como uma presa relativamente fácil. Ou seja, uma seleção natural se instaura desde o primeiro dia.
Além disso, ainda temos os filhos dos traidores.
Após uma revolução que dividiu o reino, a mãe de Violet é uma das responsáveis pela execução de centenas de traidores.
E, embora só mataram os pais, todos os filhos foram marcados (!) e obrigados a servir a Divisão dos Cavalheiros quando completassem 20 anos. Entre eles temos Xaden — o filho do antigo líder da revolução, o Dirigente que todos temem, e o primeiro a botar os olhos em Violet.
“— Sua mãe capturou meu pai e o executou.
— Seu pai matou meu irmão mais velho. Acho que estamos quites.”
O ódio é mútuo e instantâneo.
Bom, talvez a palavra não seja ódio, mas é um sentimento bem forte.
Onde entram os dragões? [contém spoiler]
Aos alunos que sobrevivem aos primeiros meses em Basgiath, é dada a chance de se apresentarem aos dragões dispostos a se unirem.
Porém, a decisão é da criatura, não do humano. E no tão esperado dia da Ceifa, uma dragãozinha inusitada aparece.
Ela é pequena demais para carregar um cavaleiro, não parece ter garras para se defender e nem ao menos força para cuspir fogo. A sua escolha de união deixaria alguém em desvantagem e por isso um grupo decide massacrá-la.
UM DRAGÃO!!! (Todos os meus vizinhos do andar devem ter ouvido eu xingando nesta parte.)
É assim que Violet se coloca entre a dourada e os agressores e, embora ela se saia muito melhor do que eu esperava, suas chances de vencer todos ainda são nulas.
Até Tairn aparecer. O maior de todos os dragões.
O que metade temia e a outra metade almejava. Ele vê a nossa mocinha como a única digna de uma união tão poderosa e deixa muita gente com raiva ao escolhê-la. E se a cena do Tairn já não fosse um surto, Andarna (a dragãozinha dourada) também se une a ela!
“Parado ali, com o dragão dourado escondido embaixo de uma enorme asa preta cheia de cicatrizes, está o maior dragão que já vi em toda a minha vida.”
Ninguém achou que Violet chegaria até a Ceifa e ela saiu com 2 dragões!
Quer mais?
Tairn é CONSORTE da Sgaeyl, a dragão do XADEN. Os dois são parceiros destinados a estarem sempre juntos. Inclusive, não conseguem passar mais que poucos dias longe um do outro.
Ou seja, agora Xaden e Violet estão conectados, querendo ou não.
Ah, e o Tairn é uma das vozes mais sarcásticas deste livro, eu ri demais com os comentários dele sobre como o Dirigente de Asa deixa a sua humana nervosa…
Um romance slow burn para testar o meu coração
“— Quer tirar sangue meu hoje, não é, Violência? — ele sussurra. O metal tilintando no tatame de novo e ele chuta a adaga para longe da minha cabeça, longe do meu alcance […]
— Meu nome é Violet — rujo.
— Acho que minha versão combina mais com você. — Ele solta meu pulso e fica em pé, oferecendo uma mão. — Ainda não acabamos.”
Embora as fagulhas disparem para todos os lados no segundo que o Xaden olha para a Violet, nós leitoras temos um longo caminho até chegarmos no tão esperado romance.
Temos discussões a todo momento, algumas ameaças, uns arremessos de adagas e os dois rolando no tatame. Ok, o romance pode demorar para acontecer mas a tensão é muito bem construída kkkk 😂.
E gente, quando os dois finalmente ficam juntos… socorro.
O primeiro beijo já me deixou sem ar, mas a primeira noite do casal?!
Só o que eu posso dizer é que móveis foram quebrados, uma cortina pegou fogo, e algumas pobres árvores foram destruídas. Eu nem esperava que o livro tivesse hot — não que eu esteja reclamando.
Também temos uma trama política sendo confabulada
E como todo bom livro de fantasia preparando os personagens para marchar para a guerra, óbvio, também temos uma trama política de fundo cheia de segredos.
Ataques acontecendo que não são repassados para os alunos, detalhes importantes que são alterados em comunicados, e diversas dicas do que teremos nos próximos livros, já que este é apenas o início da série.
O final mesmo, trouxe uma reviravolta que pode mudar tudo o que sabemos sobre os rebeldes e ainda adiciona novas criaturas amaldiçoadas no universo mágico deles. Foi uma ótima forma de me deixar nervosa para ler a continuação.
Felizmente, já temos o segundo livro publicado, “Chama de Ferro”. E para acabar de vez com nossos nervos, a autora entrou no clima das novidades e confirmou que o terceiro livro, “Tempestade de Ônix”, sairá no começo de 2025 lá fora e aqui no Brasil.
Mas, para não dizer que tudo foi perfeito…
Teve uma coisa que me tirou do sério: o livro inicia com uma ameaça de triângulo amoroso.
Eu não suporto triângulo amoroso, sou da opinião que ou me entrega um trisal ou não perde tempo com joguinho. Mas este personagem em questão trouxe muito mais ranço do que eu esperava e deixou um gancho para o próximo reencontro deles que… olha… passarei muito pano para o Xaden se rolar sangue.
Minha opinião de Quarta Asa
Expectativas superadas!
A escrita é uma delícia, extremamente fluida e, mesmo o título tendo mais de 500 páginas, a leitura ainda é rápida e dinâmica.
Os personagens trazem várias tiradas engraçadas, temos diversos comentários sarcásticos e uma protagonista que nos representa com o amor aos livros.
Como já sou apaixonada por dragões, sou suspeita a falar, mas trazer criaturas com uma consciência bem desenvolvida e que participam ativamente das decisões mostrou como os laços com seus cavaleiros fizeram muito sentido.
Óbvio que não posso deixar de mencionar que a aproximação forçada do casal principal dada a relação dos seus dragões foi o auge para qualquer leitora de romances. Chegamos em um outro nível de um relacionamento de conveniência.
E por falar em relacionamento, eu preciso de mais cenas desse casal, eu preciso (!) de mais momentos do Xaden sacana e da Violet perdendo o controle dos seus poderes… As cenas hot são sensacionais!
E para quem viu comentários negativos na internet comparando Quarta Asa a histórias mais antigas como Divergente e A Rainha Vermelha, eu entendo de onde as comparações surgiram.
Elas fazem sentido, mas não achei justo desmerecerem Quarta Asa por alguns poucos pontos em comum com outras fantasias e distopias.
Ainda acredito que o trabalho da Rebecca foi muito bem feito, assim como a tradução da Laura Pohl que trouxe uma pegada bem brasileira para os diálogos, e o livro faz jus a toda a atenção que está recebendo!
Sobre a autora
Rebecca Yarros é uma autora estadunidense apaixonada por livros de romance, café e chocolate. Além da série Empyrean em andamento (com dois volumes já publicados lá fora), ela também escreveu outros 19 títulos!
Vocês podem conferir um pouco mais sobre a autora, os lançamentos de Empyrean e os planos de adaptação cinematográfica da série de Quarta Asa aqui.
Avaliação de Quarta Asa
Quarta Asa excede expectativas com sua escrita fluída e personagens cativantes. Tanto pela relação entre dragões e cavaleiros, como pela cenas românticas e uma trama dinâmica, o livro merece toda a atenção que está recebendo.
Lados positivos
- Escrita envolvente e fluida.
- Personagens cativantes.
- Relação entre dragões e cavaleiros é explorada de forma envolvente.
- Cenas românticas e emocionantes.
Lados negativos
- Uma ameaça de triângulo amoroso.
Sobre a ameaça de triângulo amoroso, não tive esse sentimento. Também não gosto, mas ainda assim não senti que vinha algo nesse sentido, estava convicto que seria um ou outro. Ainda bem, ou já teria garrado ranço ali rs.
Eu adorei a história num todo, mas fiquei incomodado com os diálogos. Achei extremamente ruins. E uma característica que não suporto que esta presente não só aqui, mas também em livros da Sarah e da Jennifer, é essa americanização dos ambientes. Você está num outro mundo criado do zero, no entanto, os personagens comem, agem e falam como se estivessem nos Estados Unidos do seculo 21. Isso pra mim soa preguiçoso, faltando interesse da autora em criar e mergulhar de verdade na criação do novo mundo, que teve outra criação, que vive numa sociedade diametralmente oposta, sem semelhanças.
Também existiram coisas bobinhas, mas que acho bem perdoável e que não me fizeram perder em nada o apetite de ler, como os enfáticos pensamentos da protagonista em relação ao “antagonista” dela na academia que não tinham bases reais. O que a realidade nos mostrava era uma coisa, enquanto ela criava outra realidade na cabeça dela e seguia com afinco ignorando o seu ao redor.
Enfim, falei muito, mas pra não me chamar de carrasco devo dizer que dei 4/5 estrelas e pretendo ler a continuação assim que sair no Brasil.
No mais, gostei da resenha.