Se você está com saudade de uma fantasia medieval clássica, te convido a conhecer Contos de Awnya: Ravel.
Nesse livro, além do universo com orcs, dragões, djins e elfos, conhecemos a história de um mago que está enfrentando uma condição que o impede de fazer aquilo que mais ama: magia.
Com várias pequenas referências a outros universos, como O Senhor do Anéis, The Witcher, Dragonlance e Duna – os bons e velhos clássicos do gênero de fantasia – Contos de Awnya é uma história única, criada em terras brasileiras por Flavio A.S. Fernandes.
Ih, fantasia brasileira?
Eu sempre tive uma certa dificuldade com as fantasias medievais brasileiras.
Os que encontrei, durante esses mais de 20 anos de leitura, acabaram sendo ruins ou (e) mal escritos.
A minha percepção só começou a mudar quando encontrei Dragões de Éter, de Raphael Draccon, e também Bento, de André Vianco, mas mesmo assim eu sempre fiquei com receio de procurar por esse tipo de título.
Agora, totalmente mais aberta a novas experiências, eis que recebo uma mensagem me convidando para conhecer Contos de Awnya, uma aventura de fantasia medieval pura e 100% brasileira.
Uma autopublicação muito bem inscrita e com uma ótima história.
O livro começa com todos os clichês que gostamos no gênero: um mago e seu bando roubando um tesouro de dragão (e com as dificuldades que você pode imaginar que essa façanha pode oferecer).
Mas depois disso, você vai encontrar uma trama sobre o poder da mente, romance, inimizades e o perigo da magia nas mãos de quem não quer o bem. Uma fantasia medieval com poemas, bardos e aventuras, sem tirar e nem por.
Sinopse de Contos de Awnya
Autor: Flavio AS Fernandes
Páginas: 426
Publicação: 2021
E se você fosse o seu maior inimigo? Esta é a grande questão de Ravel, um talentoso mago que desenvolveu intolerância à magia. Toda vez que conjura um encantamento ou um feitiço o seu corpo sofre graves consequências, pondo em risco a sua própria vida.
Entretanto, foi em uma de suas crises provocadas pelo uso insistente da magia, que descobriu uma possível solução para a sua condição. O problema é que o caminho escolhido poderá guiá-lo para a destruição antes mesmo da resolução!
Desbrave este mundo de fantasia medieval cheio de ação, magia, criaturas míticas e de aventuras nos mais diversos cenários, desde florestas, um vasto oceano, até um deserto de areias escaldantes!
Um personagem mais velho
Um dos pontos positivos dessa história é que Ravel já está na casa dos 30 e seus problemas são mais maduros do que normalmente vemos em histórias assim.
Sabemos que ele passou pela universidade de magia, mas agora suas preocupações são outras: depois de abandonar sua profissão como instrutor, agora ele precisa entender porque seu corpo rejeita o uso de magia.
Ele também demonstra ser um personagem muito mais aberto a novas experiências, uma tendência forte a se meter onde não deve e uma inteligência e memória fora do normal.
E claro que a bondade também não poderia faltar em um clássico herói. Mas ainda assim possui defeitos o suficiente para se manter real.
“Ravel não gostava quando as pessoas faziam observações sobre a sua condição. Tampouco quando essa observação era algo que ainda não tinha percebido.”
A mecânica da magia e do universo
A mecânica do universo é explorada mais no âmbito da magia. Para conjurar poderes, um mago depende da sua mente, sua concentração e clareza, e algo para sua queima.
Cada tipo de magia depende de um combustível diferente, derivado da ligação do mesmo com o elemento conjurado. Mas o poder da mente é o que realmente importa: o que for visualizado será o resultado do encantamento.
Além disso, nesse mundo também temos os orcs, vivendo sobre seus clãs, elfos, dríades, demônios, djins, anões e outros monstros e elementos de mitologias diferentes.
“Anões gostam de escavar, lutar e beber. São ranzinzas e rudes aos costumes humanos, contudo, aos seus olhos, são os seres mais agradáveis que há, diferente dos elfos que são pomposos, dos orcs que são agressivos e dos humanos que são desleixados.”
Narrativa que não para
O livro não para quase nunca. Sempre tem alguma coisa acontecendo – nem sempre relevante para o desfecho, mas relevante para construção dos personagens.
Ravel, no caminho para encontrar a solução para seu problema, acaba usando ainda mais magia, e seu fim parece cada vez mais próximo.
Depois da metade, o livro acaba ficando com muitas descrições dos locais e ambientes, deixando a leitura um pouco maçante em certos capítulos. Mas, apesar de serem longas, são muito bem feitas. É possível imaginar cada detalhe do que é apresentado, como as entradas das cidade e as dunas.
O livro também tem vários personagens. Alguns mais temporários, mas ainda, sim, importantes. Isso dá bastante dinamismo, e mostra perspectivas diferentes de cada raça.
Um ponto negativo para o livro
Os livros de fantasia geralmente não têm papéis femininos bons e fortes. Aqui o autor buscou mudar essa premissa, mas ainda assim senti que faltou um desenvolvimento maior das personagens.
Senti falta na própria personagem principal: a Elowin. Ela é para ser muito importante, uma elfa com muitos anos de vida que sabe muito bem se cuidar.
Não vou contar muito sobre a história dela, já que seu segredo é parte da trama. Mas ela fica com um papel bastante secundário e muitas vezes ingênuo.
Senti falta do seu próprio crescimento! Na minha visão, ela precisava entender que apenas ela é capaz de realmente se aceitar do jeito que é – e que é algo que ela precisa construir sozinha.
Opinião final sobre Contos de Awnya
O livro da história de Ravel tem 426 páginas. Apesar de ser um livro grande, não é enrolado. A história é muito gostosa, e além de ser clássica, fala também de bem-estar, em saber se ouvir e do poder que a mente tem.
Inclusive você pode ler mais sobre o que influenciou a história desse livro na entrevista da Revista Abril do escritor. Lá ele conta que foi sua própria condição que o fez escrever sobre Ravel.
Por ser um livro de autopublicação, mesmo precisando de algumas revisões aqui e ali, me impressionou pela qualidade da estrutura do texto, da narrativa e das descrições.
Com certeza foi uma boa leitura, e ganha mais pontos positivos por ser brasileira. Afinal, precisamos ter mais publicações nessas terrinhas. Temos ótimos escritores, como Flavio A.S. Fernandes se provou, que podem nos entreter por horas e horas.
“A viagem é longa, muita coisa pode acontecer, quem sabe você muda de ideia até lá.”
Contos de Awnya: Ravel
Se você gostou, você pode comprar (ou pegar de graça no Kindle Unlimited) o livro na versão digital na Amazon.
Sobre o autor Flavio A.S. Fernandes
Flavio Arthur Sobrinho Fernandes é soteropolitano, advogado, escritor, poeta e um apaixonado pelas letras . É fã de RPG, séries, filmes, quadrinhos, animes e de literatura fantástica e medieval.
Adora escrever sobre aventura, suspense e ação, nunca esquecendo de uma pitada de romance, elementos estes que poderão ser encontrados nesta obra cheia de aventura!
* a autora da resenha recebeu o livro gratuitamente
Confesso que pensar em “fantasia brasileira” me lembra o Curupira mas cara, tenho que dar o braço a torcer, parece-me uma leitura fantástica!
To bem curioso, vou reavaliar a minha lista de leitura, quem sabe encontro um espaço para uma fantasia nacional né?!
Exatamente, é sempre bom ter experiências literárias novas ☺️
Quanto a fantasia brasileira também sou meio desconfiado, mais recentemente li além do já clássico do Brasil A batalha do Apocalipse o excelente Filhos da Degradação do Felipe Castilho, é sensacional empolgante e cativante.
São ótimos livros, de fato! Temos muito mais escritores no cenário brasileiro – e também mais apoio, o que antigamente era mais escasso.
O fato de trazer personagens femininos fortes e com destaque já chamou minha atenção! Fiquei curiosa e espero ler o livro em breve.
Adoro resenhas sinceras, que expõe os pontos positivos e negativos. Quem pretende ler, já sabe mais ou menos o que esperar e não se decepcionará. Inclusive é uma forma do autor poder melhorar ao escutar seus leitores. Parabéns pela resenha e ao autor pelo livro.