Antes de comentar minhas impressões sobre a saga do Geraldão da massa (The Witcher) vou fazer três avisos. O primeiro é que não vou dar spoilers! Se, por acaso, eu entregar alguma informação, vou fazer um alerta antes, ok?
O segundo é que, se você caiu aqui porque é fã dos games, bem, devo dizer que a história dos jogos se passa depois dos eventos dos livros e, segundo Sapkowski (o Autor), não são canônicos.
Então, se quiser saber os eventos oficiais, não tem jeito, tem que ler os oito livros da série. (Aliás, a depender de qual edição você estiver acompanhando, serão nove livros, pois a Martins Fontes resolveu dividir o livro a Senhora do Lago em parte 1 e 2).
Por fim, o terceiro aviso é que não vou falar livro por livro. Até porque eu li bem tranquilo, aproveitando cada pedaço da obra, então levei vários meses para ler tudo, não vou lembrar de detalhes dos primeiros livros. Essa resenha é para dar uma impressão geral sobre a obra. Dizer se vale ou não a pena ler. Ah, claro que vale! Corre logo, vai pegar os livros ou continue lendo nosso texto.
O bruxão e os Contos da Carochinha
Se você viu imagens do Geralt matando monstros e com o seu semblante sisudo pode até ter estranhado a relação, mas sim, é isso que o leitor vai descobrir nos primeiros livros da saga. Antes da aventura principal ter início, o Autor nos presenteia com aventuras avulsas do Geraldão.
Dentre elas, tal foi a minha surpresa ao ver versões sombrias da branca de neve, da pequena sereia e da bela e fera. Ah, mas eu não gosto dessas histórias de crianças! A versão é tão sombria que talvez você demore a fazer a ligação entre as histórias e quando descobrir, a surpresa é bem recompensadora!
Um mundo rico
Quem está acostumado com os elfos do universo dos livros de Tolkien que são seres perfeitos, esbeltos, quase deuses, pode estranhar a versão do Sapkowski. Aqui eles estão exilados, são caçados e odeiam humanos. A rivalidade é visceral e dá para sentir a amargura dos elfos ao serem sobrepujados por uma raça, na visão deles, inferior.
Para além disso, temos um mundo complexo com estruturas medievais mescladas com instituições que se assemelhariam ao nosso século XV. Acompanhamos chanceleres, diplomatas, espiões, ordens de cavalaria, professores universitários, advogados, enfim, uma gama de instituições que colocam um pé no chão no mundo fantástico do Sapkowski.
Um mundo que, como posso dizer, é bem “sujinho”. Mas um “sujinho” pensado na realidade em que tivemos nos séculos passados.
Ah, o que é isso de “sujinho”?
Bem, usei esse termo para resumir uma série de fatos, comumente ocultados pelas histórias de fantasia. As pessoas passam fome, ficam desnutridas e sofrem doenças, como o escorbuto e a peste. Contraem varíola e uma série de enfermidades que as deformam e criam marcas distintivas de seus personagens. Os ambientes são escuros e fedem a mijo, fezes, mofo e podridão. O asseio é para poucos e, os que fazem, são destacados por uma explicação condizente com a posição.
Ah, mas isso é nojento! Realmente não é nada agradável, mas fez parte de nossa história e isso torna a imersão mais rica e intensa.
A leitura de The Witcher não é como um passeio por um parque da Disney, onde tudo é lindo, limpo e com todo mundo cantando e sorrindo. Definitivamente não. Trata-se de uma viagem sobre o lombo de um cavalo suado ou uma viagem em uma carruagem sacolejante sentando em pilha de feno.
O que isso quer dizer? Quer dizer que se gosta de uma aventura rica em detalhes e com pés fincados na realidade crua e bruta da época medieval, então essa é a sua leitura!
Pontos fortes da saga The Witcher
Eu costumo dizer que aprendi muito a escrever imersão sensorial com o mestre Sapkowski. É impressionante como, em poucas palavras, o autor pinta o quadro e a cena fica completa na mente do leitor.
Então sim, o livro é muito bem escrito, com uma linguagem tranquila que um leitor que não tem costume com obras mais densas vai se divertir sem se engasgar.
Aliás, o que vale também ressaltar da escrita são os diálogos. São tão bem construídos que dentro de uma conversa o leitor embarca na história tendo a noção do tempo e do espaço através de bate-papos bastante verossímeis. Às vezes eu tinha a impressão de estar ali, sentado ao lado dos personagens participando da conversa. É muito bem-feito!
Outro ponto forte são os personagens. Cada pessoa citada do livro, tem sua personalidade marcante, um trejeito próprio que o tornam críveis. Alguns queridos e outros nem tanto. Eu, particularmente, tenho meus favoritos e alguns nem são os protagonistas, longe disso.
Ainda no tema das personagens não dá para ficar sem destacar as personagens femininas. Não falta exemplo de mulheres fortes, empoderadas e independentes.
E não se resume apenas às feiticeiras, que são poderosas, por motivos óbvios, e que usam de sua inteligência para dobrar reinos a sua vontade. Temos também uma exímia caçadora que quebra o nariz de qualquer desavisado que olhe torto para ela e uma ladra que não tem pudor nenhum de encher a cara e pensar em lucrar com um bordel. Sem falar no arco de Ciri que é um tremendo arco de amadurecimento e de independência.
Ou seja, se procura um livro com mocinhas indefesas que esperam um herói para salvá-las, devo alertar que este não é o seu livro. O mundo de The Witcher é um universo de fantasia complexo com pessoas reais e com problemas reais.
Um ponto que vale lembrar, que é até destacado na sinopse, são os monstros. Fica muito claro na narrativa que o autor quis fazer esse paralelo entre humanos e monstros. Os “vilões” da saga são pessoas com seus próprios interesses e apresentam uma ameaça real.
Posso destacar um caçador de recompensas na história (não vou dar spoilers) que toda vez que ele aparece o leitor sabe o risco é real. Eu temia pelas personagens mais quando ele aparecia do que qualquer outro monstro. E ele não tem nada de sobrenatural, bastou a boa construção de sua psiquê e de suas habilidades.
Pontos fracos
Sim, a obra não é perfeita. Acontece. Do mesmo modo que o Sapkowski é primoroso na narrativa, na descrição de cenas e na construção das personagens ele se alonga com pessoas que (na minha humilde opinião) não tem nada a ver.
Tem um tal de Jarre que se tirasse os trechos dele do livro não afetaria em nada a história e economizaria, pelo menos, umas sessenta páginas.
Várias vezes eu estava louco para ver o que ia acontecer com Geralt ou Ciri e tinha que passar por longas peripécias de personagem que eu não me importava. Claro que vai ter gente que vai dizer que é bom para enriquecer o universo. Ok. Mas essa é minha impressão, tudo bem? Aqui é ponto negativo que pode ser visto como positivo por outro coleguinha e tudo bem a amizade continua!
Outro ponto é o preciosismo de toda vez que vai falar das feiticeiras ele tem que descrever as roupas e os acessórios que elas estão usando. Ok, eu já tinha entendido da primeira vez que ela são impecáveis, são bem-vestidas e elegantes, não precisava toda vez fazer um desfile de moda das feiticeiras.
Opinião Final
Poxa, são oito livros! Por que vou começar a ler isso tudo? Tenho tantas obras badaladas na minha lista! Então… Eu diria para colocar The Witcher na primeira fila. Se argumentos anteriores não serviram de convencimento. Então que tal essa, segundo a Martins Fontes:
Andrzej Sapkowski é um grande renovador da literatura fantástica de nossos tempos, um gênio da linguagem. Sua prosa enfeitiçou milhões de leitores no mundo todo – mais de dois milhões de exemplares foram vendidos na Europa e nos Estados Unidos.”
E é uma obra que rendeu uma premiada série de jogos e agora a série da Netflix com o superman no papel do bruxão, já pensou? E olhe que o livro é sempre melhor!
Minha opinião final já foi entregue lá no começo. Sim, é um livro que recomendo fortemente para que gosta de fantasia e de aventura. Geralt é um personagem rabugento, reclamão e que pouco demonstra os seus sentimentos (pelo menos é o que ele acha), mas é muito carismático e não é difícil você se importar com ele e sua causa.
E se você é um leitor que gosta de construção de universo, o livro é um prato cheio, pois entrega a mitologia do mundo, através de diversos pontos de vista.
E aí? Que tal embarcar nessa aventura? Que tal ler tudo e depois só curtir a série The Witcher da Netflix sem tomar nenhum spoiler?
O box completo você pode comprar na Amazon.
Os livros da saga The Witcher
Para quem ficou curioso, esses são os livros da saga:
- O Último Desejo
- A Espada do Destino
- O Sangue dos Elfos
- Tempo do Desprezo
- Batismo de Fogo
- A Torre da Andorinha
- A Senhora do Lago (vol. 1 e 2)
- Tempos de Tempestade (prelúdio)
Para saber mais sobre cada um dos livros, vem dar uma olhada no post sobre a ordem dos livros de The Witcher. Lá a gente conta mais sobre a ordem cronológica e a ordem normal de leitura.
Resenha escrita por Flavio AS Fernades, escritor de Contos de Awnya: Ravel.
Sobre o autor do post
Flavio Arthur Sobrinho Fernandes é soteropolitano, advogado, escritor, poeta e um apaixonado pelas letras . É fã de RPG, séries, filmes, quadrinhos, animes e de literatura fantástica e medieval.
Adora escrever sobre aventura, suspense e ação, nunca esquecendo de uma pitada de romance, elementos estes que poderão ser encontrados nesta obra cheia de aventura!
Estou lendo a saga pela segunda vez. Concordo com grande parte do que foi dito aí.
Sobre a parte do Jarre, a minha opinião é que o autor quis descrever a fantasia que as pessoas fazem da guerra e o contraponto que é a verdade, do ponto de vista de um personagem que justamente fantasiava ela, e depois a viveu nua e cruamente.
Confesso que não é um personagem que eu me importante tanto, também, mas curti essa visão que ele dá. Ao menos da minha interpretação.
Essa resenha me deixou muito ansiosa para ler os livros! Vou só terminar as sagas atuais e começar 😍