Em um mundo distópico futurista de O Saboroso Cadáver, a humanidade enfrenta um desafio grotesco. Um misterioso vírus se espalha e infecta todos os animais do planeta, tornando sua carne letais aos humanos. Misteriosamente, os humanos são os únicos animais que não tiveram sua carne contaminada de forma letal pelo vírus.
O que deixaria todos os veganos felizes e satisfeitos na esperança de um mundo onde ninguém mais come carne animal, se torna um pesadelo para toda uma sociedade, onde as consequências não escolhem um lado.
São poucos os ditados que fazem tanto sentido quando levados ao pé da letra. Um deles é a famosa frase “você é o que você come”.
A sociedade não perde muito tempo e logo regulariza a criação e a reprodução de seres humanos como animais de abate, transformando o mundo num lugar ainda mais sombrio, hipócrita e hostil.
A história
Nessa história sangrenta, temperada com muita violência, recheada de descrições vívidas e nauseantes capazes de nos alimentar na medida certa, vamos acompanhar a rotina de Marcos Tejo, um funcionário de um frigorífico.
Seu papel neste novo mundo é muito importante e crucial, principalmente devido às habilidades que construiu durante anos, antes mesmo do sombrio vírus assolar a humanidade.
Marcos recebe como um presente uma mulher viva, considerada “carne nobre”. É irônico pensar que, mesmo com todos seus atributos profissionais, ele seja aparentemente o ser humano mais humano nesse mundo cruel.
Quantos corações precisam ser guardados em caixas para que a dor se transforme em outra coisa?
Acompanhando Marcos, presenciamos uma nova forma de ver o conceito de carne de abate. Humanos agora são criados como gado e tratados como “produto” ou “mercadoria” em processos minuciosos, experimentos de laboratório, caçadas esportivas de humanos e encontros canibais – que podem ser também interpretados como uma crítica ao sistema que vivemos, onde o homem é apenas um produto a ser “consumido” por aqueles que têm mais condições, sendo monetárias ou apenas poder ideológico.
De forma “organizada”, o mundo possui regras e leis que devem ser seguidas. É interessante como a autora nos apresenta a fragilidade desses conceitos que são aplicados e as dúvidas que surgem devido à mídia sensacionalista divulgar falsas informações referente ao vírus quando convém.
“O ser humano é a causa de todos os males deste mundo. Somos nosso próprio vírus.”
Sobre a leitura
Neste livro, Bazterrica nos insere em um pesadelo onde o canibalismo é legitimado na maioria dos países, numa sociedade que se torna ainda mais dividida, sobrando aqueles que comem e aqueles que são comidos.
Saboroso Cadáver é um livro deliciosamente cruel e servido com pitadas generosas de impiedade. Não é uma leitura que desce bem para qualquer estômago e precisa ser degustada com calma.
O desfecho pode ser amargo ou agridoce, mas indiferente a interpretação, é um prato cheio para os amantes do horror e pode deixar um gosto amargo pela quantidade de paralelos que podem ser traçados com nossa realidade.
Minha avaliação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse de Saboroso Cadáver
Autora: Agustina Bazterrica
Páginas: 192
Lançamento: 2022
Editora: Darkside
Sinopse: Diz o antigo ditado que “Você é o que você come”. No romance Saboroso Cadáver, de Agustina Bazterrica, esse ditado é levado às últimas consequências. O livro conta a história de um vírus que se espalha entre os animais de todo o planeta e torna sua carne mortal aos humanos. Impossibilitados de utilizar os animais para a alimentação, a sociedade regulariza a criação e a reprodução de seres humanos como animais de abate, transformando o mundo num lugar cinzento, cínico e inóspito.