Tempo do Desprezo é o 4º livro da saga de The Witcher. O foco da trama agora está na iminente guerra, a animosidade entre raças e suas consequências. Como um livro do “meio” (literalmente, pois a saga tem 8 livros), ele sofre do mal do “livro de transição” das trilogias.
Pois é. Para mim, foi uma leitura que perdeu o ritmo dos livros anteriores.
Onde estamos na história em Tempo do Desprezo
Tempo do Desprezo começa pela narrativa de um estafeta, um tipo de mensageiro real a cavalo. É assim que sabemos que os reis pararam de confiar suas mensagens secretas para os magos e voltaram a usar apenas os serviços desses homens.
Esse estafeta em particular tem a sorte/azar de se encontrar tanto com Ciri, mesmo não sabendo quem é a menina, e tanto com Geralt.
Sorte porque Geralt matou um monstro em seu caminho (sem não antes ter que barganhar pela matança) e azar porque ele também precisou tirar outros tipos de “monstros” que estavam atrás de Ciri e Yennefer na presença do mensageiro.
“O bruxo lhes disse que a besta era uma manticora muito perigosa, de modo que podiam enfiar as 100 coroas no c*, porque ele não ia se arriscar seu pescoço por tão pouco.”
Essa pequena matança de Geralt é a prova que ele fará de tudo que for necessário para proteger Ciri e Yennefer. Mesmo que isso queira dizer pagar para conseguir informações, ou mesmo se fazer de isca para que ninguém se aproxime delas.
Enquanto isso, Yennefer, que tem criado um laço especial com a pequena Ciri – por mais que continue sendo a Yennefer de sempre (mandona) -, está a caminho da grande reunião dos magos. No meio da rota, sua intenção é deixar Ciri sob os cuidados da escola para feiticeiras. Porém Ciri tem outros planos – que é ver Geralt antes de ser trancafiada em uma cidadela – e ela acaba fugindo.
É aqui que o Rei da Perseguição da caçada selvagem chama a criança de sangue antigo, a filha do caos, para ser um deles. E entendemos um pouco mais sobre o que a menina quer dizer para o destino do mundo.
“Sim, nós somos cadáveres. Mas você é a morte em si.”
O que achei da leitura
Até a metade da leitura, eu gostei bastante do livro. Logo no começo, sabemos mais sobre a guerra que está muito, mas muito próxima de acontecer; temos a aparição do misterioso Rei da Perseguição; e, inclusive, a primeira declaração de amor entre Geralt e Yennefer – que, apesar de não ser super romântica, é a cara deles.
Porém, depois de terminar o livro, passei um tempo pensando porque essa leitura não me agradou e cheguei em algumas conclusões:
- Narrativa com ritmo inconsistente, contada por diferentes personagens que não os principais e que são pouco relevantes para o contexto geral (apenas servem para contar algum acontecimento em algum lugar distante).
- Muitos, mas muitos nomes, reinos, fronteiras, cidades, gangues, personagens. Não é complexo, mas senti que perdi parte do enredo por não lembrar de cada um desses nomes. Talvez porque não vi um mapa, mas mesmo assim acredito que a leitura não deveria demandar isso.
“Estou me esforçando, mas peço que fale mais devagar. Não se esqueça de que está conversando com uma beterraba.”
Geralt e eu
- Parte do que acontece depois do meio do livro. A bagunça que Geralt se mete depois do luxuoso jantar dos feiticeiros, as descrições das roupas das feiticeiras e a culpa transportada em Jarkier pelo que aconteceu com o amigo.
- E, para fechar, a abordagem da sexualidade de Ciri (ela tem 14 anos, vale lembrar), principalmente em um momento de fragilidade e medo. Com a cereja do bolo sendo as decisões contestáveis que ela toma logo depois de todos esses eventos.
Apesar de a guerra começar nesse livro, o que deveria trazer uma nova camada à história, a leitura ficou um gosto amargo, principalmente pelo final. Todos os personagens estão perdidos no fim deste volume.
Vi um comentário que dizia “é como se tudo acontecesse e nada acontecesse”, e faz muito sentido.
Mas não se engane, continuo gostando da série.
Tem alguns destaques que continuam me fazendo ler, como as descobertas sobre o passado e a ancestralidade de Ciri, o reencontro do casal principal e a ida para o grande encontro dos magos, com a acidez já conhecida de Geralt.
Além disso, eu felizmente já li o livro 5 e sei que a saga tem uma boa continuação, como falo aqui na resenha de Batismo de Fogo.
“Ele perdeu alguns litros de sangue, a fé (…)… aí, pensei comigo mesma, algo, afinal, deveria lhe ter sobrado. Pois não é que me enganei? Ele não tem mais nada.”
Sobre a adaptação na série da Netflix
Para quem está acompanhando a série da Netflix, é em Tempos de Desprezo que você vai começar a reparar nas maiores diferenças.
Coisas que acontecem com uma personagem foram jogadas para outra. Mortes não acontecem. O relacionamento de Yennefer e Ciri que é totalmente diferente.
Nesse ponto da saga, são duas histórias muito diferentes. E devem ser curtidas como histórias diferentes.