The Sunlit Man (em uma tradução livre: “O Homem Iluminado pelo Sol”) é o quarto e último livro da série de projetos secretos que Brandon Sanderson lançou em 2023.
Como algum dos outros livros do projeto, como Tress e o Mar Esmeralda (resenha aqui) e Yumi and the Nightmare Painter (resenha aqui!), o livro é mais uma história isolada dentro da ambiciosa Cosmere, o universo onde a maioria das sagas de fantasia de Sanderson se passa.
(Não conhece a Cosmere? Nós explicamos mais no conteúdo sobre a ordem dos livros de Brandon Sanderson.)
Atualmente, o livro ainda não possui previsão de lançamento no Brasil. Porém, o livro 2 do Projeto Secreto, O manual do mago frugal para sobrevivência na Inglaterra medieval, foi lançado esse ano pela editora Trama. Por essa lógica, é possível que Yumi lance em 2025 e Sunlit Man saia no final de 2025 ou no primeiro semestre de 2026.
Neste livro, conhecemos Nomad, um homem desesperançoso e exausto cujo único objetivo, após inúmeras decepções ao longo de uma vida longa e dolorosa, é seguir sobrevivendo e fugindo daqueles que o perseguem – tanto o seu passado quanto os seus inimigos interplanetários e bastante perigosos.
Em uma de suas desesperadas fugas, Nomad se teletransporta para um planeta onde a luz solar é mortal e é imediatamente capturado e lançado em uma arena de confrontos até a morte.
Lá, ele acaba participando de uma súbita fuga em massa de prisioneiros, e em meio a este grupo de rebeldes lutando com unhas e dentes por uma causa perdida, Nomad vê sua chance de fugir do planeta – mas ele só conseguirá fazer isso se evitar ajudá-los.
“Nomad acordou em meio aos condenados.”
The Sunlit Man
Sobre os personagens
Nomad é o único protagonista de The Sunlit Man.
Pouco se sabe sobre quem ele é ou quem ele foi durante os primeiros capítulos do livro, e desvendar esse mistério aos poucos foi o que mais gostei de fazer durante minha leitura!
No início, sabe-se que Nomad é roshariano, ou seja, ele vem de Roshar, o planeta onde se passa a série de livros Os Relatos da Guerra das Tempestades.
Além disso, ele parece ter, em algum grau, participado de alguns dos eventos dos livros. E, é claro, Nomad não é o seu nome verdadeiro.
Antes de se tornar o homem agora conhecido como Nomad, ele fora parte de uma das ordens de Cavaleiros Radiantes, embora há quanto tempo isso tenha ocorrido também é um mistério.
Apesar de não ser mais um Radiante de verdade, Nomad ainda tem como fiel companheiro o seu espreno, Auxiliary. Auxiliary, todavia, não é um espreno normal – ele foi morto em estranhas circunstâncias, e agora é o seu cadáver fragmentado que acompanha Nomad em suas fugas interplanetárias por toda Cosmere.
Auxiliary é meu personagem favorito neste livro. Como um espreno morto, ele não age da mesma forma que outros espreno que vemos em Os Relatos da Guerra das Tempestades.
Ele não possui presença fora da mente de Nomad, e muitas vezes gosta de fingir ser sua consciência ou bom senso enquanto afirma que o próprio Nomad não tem nenhum dos dois.
Auxiliary não tem emoções – ou, pelo menos, ele insiste não ter – então apenas emula as memórias de emoções que ele tivera em vida. Isso permite interações muito engraçadas entre os dois personagens, mas também proporciona os diálogos mais profundos quanto à turbulência mental de Nomad e seus traumas.
Além desta dupla caótica, temos a breve aparição de um clássico personagem da Cosmere, o mestre de Nomad, Riso, ou Hoid.
Outros personagens de maior destaque
A primeira é Rebeke, a involuntária líder do grupo de rebeldes que resgata Nomad da arena.
Como a maioria dos membros da resistência, ela tem pouquíssima experiência em combate ou estratégia.
Ela também é visivelmente muito jovem, mas não tem outra escolha senão assumir o manto da liderança – antes, sua irmã mais velha quem o carregara e, após ela ser sequestrada e tornada em um monstro, Rebeke se tornou o último símbolo que seu povo tem na luta contra a tirania.
A dinâmica dela com Nomad me divertiu bastante, pois ela é tudo que Nomad já foi e, relutantemente, deixou de ser: esperançosa, cheia de energia, atrapalhada, ansiosa por provar o seu valor.
Nomad, apesar de amargurado e infeliz, não consegue apagar por completo a chama de Rebeke, e nem quer realmente fazê-lo. Então, hesitantemente, ele tenta ensiná-la enquanto simultaneamente assume as rédeas da liderança, pois esse é um papel que ele tem experiência de sobra.
“Você é, pensou ele, um péssimo cínico.”
The Sunlit Man
Temos então Elegy (ou Elegia), a irmã mais velha de Rebeke, antiga líder da resistência.
O tirano do planeta a transformou em um monstro sem memórias de quem ela era, e que agora só sabe como ser violenta e brutal.
Porém, ao ser resgatada (ou, em sua perspectiva afetada, sequestrada) por Rebeke e Nomad, ela começa a reaprender sua humanidade, bem como usar sua sede por violência de forma mais prática e útil.
O arco dela para lutar contra seus instintos e ver mais no mundo do que força bruta foi muito instigante e diferente da maioria dos arcos que já vi em um livro do Sanderson. Gostei muito!
Por fim, temos o Cinder King (ou Rei das Cinzas), o tirano do minúsculo planeta.
Ele tem superforça e controle sobre todos os monstros que ele mesmo cria, os Charred (ou, numa tradução livre, os Carbonizados), pessoas cujas almas “morreram”, mas que continuam a lutar e a servi-lo sem qualquer questionamento.
É de coração partido que digo que esse é o vilão mais desinteressante de toda a Cosmere. Não encontrei nada particularmente cativante sobre ele e o achei, na maioria das vezes, até bastante caricato.
Toda interação que há entre ele e Nomad ou os membros da resistência mostrava um homem mau por ser mau, que fica recitando variações sobre a lei do mais forte e sobre como o uso de força, violência e medo são a única forma de comandar. Revirei os olhos em praticamente todas as instâncias em que ele apareceu.
Este homem não era brilhante nem inteligente, embora ele pensasse ser ambos. A realidade era que ele não precisava ser nenhuma das duas coisas para ser perigoso. Porque ele tinha poder, e poder – empunhado por um tolo – poderia esmagar qualquer um, esperto ou não.
Sobre a trama do livro The Sunlit Man
The Sunlit Man tem um ritmo acelerado quase constante.
Nomad dificilmente descansa, devido a sua situação difícil – hora fugindo da Night Brigade (Brigada da Noite), a força interplanetária que o caça por motivos inicialmente misteriosos, hora fugindo e lutando contra o Cinder King e seu exército de Charred.
Isso torna seguir virando as páginas extremamente fácil e prazeroso. O fato de que se trata de um livro bem menor do que a maioria dos outros da Cosmere também ajuda!
Da mesma maneira, a trama desse livro começa focada primeiro em Nomad tentando dar seguimento a sua fuga, que acaba interrompida por sua prisão pelo Cinder King e subsequente resgate pela resistência liderada por Rebeke e o Bem Maior, um conselho de sobreviventes mais velhos (todos em torno de seus quarenta e poucos anos no máximo, pois a expectativa de vida neste planeta é baixíssima) que visa a sobrevivência do grupo acima de tudo.
Nomad não quer a responsabilidade de liderar uma causa perdida, muito menos o luto que a sua evidente derrota vai trazer, mas quanto mais tempo ele passa entre seus membros, e quanto mais ele interage e despreza o Cinder King, mais ele se vê enredado nos problemas dos rebeldes.
E quando ele percebe que derrotar o Cinder King talvez seja a única forma de ele ter acesso aos métodos e poderes certos para garantir que ele saia do planeta, a escolha de ficar e lutar se torna a única que ele tem.
“Conquista não remove países,” disse Nomad. “Ela remove linhas em um mapa. Unidade requer outra coisa.”
O estilo das cenas de ação, bem como o cenário desolado e desesperador do planeta, fez com que eu imediatamente pensasse em Mad Max, que parece ter sido de fato uma das inspirações de Sanderson para esta obra.
Indico muito The Sunlit Man para alguém que queira ler uma nova história dentro da cosmere, mas não esteja buscando uma série extensa.
Essa obra também é perfeita para leitores de longa data do Sanderson que desejam saber mais sobre a trama maior que o autor tem planejado para a Cosmere.
É de longe um dos livros que fala mais abertamente sobre Adonalsium. Também conta com menções a outros planetas, como Scadrial, onde se passam as sagas de Mistborn.
Por isso, recomendo que este seja um dos últimos livros da Cosmere a ser lido, pois possui muitas referências a temas e eventos que podem deixar o leitor perdido se ele não tiver uma noção maior do universo criado por Sanderson até aqui.
Sinopse de The Sunlit Man
Título: The Sunlit Man
Série: Projeto Secreto #4
Autor: Brandon Sanderson
Lançamento original: 2023
Sinopse traduzida: Fugindo. Mantendo distância da implacável Brigada da Noite tem sido a estratégia de Nomad por anos. Ele sempre se manteve um ou dois passos à frente de seus perseguidores ao saltar pelo Cosmere, de um mundo para o outro.
Mas agora, com seus poderes esgotados demais para escapar, Nomad se vê preso em Canticle, um planeta que mata qualquer um que não se mantenha em movimento. Fugindo das chamas de um amanhecer que derrete até mesmo as pedras, ele se vê instantaneamente envolvido na luta entre um tirano impiedoso e os bravos rebeldes que o desafiam.
Fracassar significa uma morte rápida, incinerado pelo sol… ou uma vida como um escravo sem mente. Atormentado pelas consequências de seu passado, Nomad precisa lutar não apenas por sua sobrevivência—mas também por sua própria alma.
Avaliação de The Sunlit Man
Lados positivos
- Protagonista encantador;
- Dinâmica entre Nomad e Auxiliary;
- Cenas de ação criativas;
- Mistério instigante;
- Os fragmentos sobre a história de Adonalsium e a grande trama que envolve toda a Cosmere;
- Bom final.
Lados negativos
- Personagens secundários pouco cativantes;
- Vilão caricato.